quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Cap'3 - De volta à realidade (pt. 2)

Minha filha, bar tender

- Nem pensar! Isso é falta de respeito! Onde já se viu uma menina que estudou pra ser uma jornalista, passar as noites embebedando as pessoas, dançando num balcão que pega fogo com quase nenhuma roupa e esguichando água nas pessoas que pedem um copo de refrigerante!
- Pai, isso é um filme.
- É, eu sei mas você vai se tornar uma daquelas garotas do filme. - Não estava reconhecendo meu próprio pai. Aquele que sempre voltava para casa contando as histórias das festas que ele ia, contando os podres das pessoas, me ensinando um drink novo.
- Mas pai, foi você que me ensinou a fazer todos os drinks que eu sei! - ops, nem todos!
- Fui eu. - ele abaixou os olhos e me deu um susto depois – Filha, estou orgulhoso!!!

Hein? Como assim? Orgulhoso? Num minuto ele quase me deserda e no outro está orgulhoso? Fiquei feliz por não ser o contrário. Acho que ele pensou nas festas que ele ia, o que não era nada parecido com Show Bar.
Na verdade havia festas que tinham como objetivo destruir uma família com todas aquelas garotas de biquíni servindo drinks e outras coisas mais. Mas, ele deve ter pensado nas outras festas em que todos saíam felizes e bêbados.
Fomos almoçar juntos num restaurante qualquer e ele começou a preparar um discurso que tinha potencial pra durar até a hora do jantar. Começou falando de como éramos felizes quando morávamos todos juntos, como tínhamos planos pra sermos uma família feliz para sempre, e depois se lembrou de como nossos planos de desfizeram. Sim, meus pais se separaram quando eu tinha nove anos por causa da minha mãe. Eu já contei que ela é escritora e vendeu muitos livros na década de 80, não é? Não? Bom, pois ela é escritora e vendeu muitos livros na década de 80. Ela continua a escrever, mas agora seus livros são sobre a vida no campo. Desde quando ela ficou grávida do Troy (Troy é meu irmão mais novo), ela resolveu escrever no campo. Mudou-se para a casa da vovó em Glastonbury, ainda grávida, e nem se preocupou em deixar o papai em Londres e a querida filha de 9 anos com ele. Depois que Troy nasceu, ela optou por nos visitar duas vezes por mês. Se tivéssemos feito planos de ficarmos juntos eu e o papai, ela e Troy teríamos alcançado o objetivo. Troy fez aniversário à alguns meses e fomos todos (eu disse todos, isso inclui Geri, Richard, James, um italiano qualquer, papai, Catherine e Anny) pra festa, e é claro, ficamos sabendo que por lá acontece um festivalzinho legal em que a gente se divertiu um pouco.Pausa para confissão: é claro que nós programamos tudo pra irmos no festival de Glastonbury que perfeitamente acontece perto do aniversário do meu irmão amado. Ninguém sabia quantos anos Troy estava fazendo, fora o meu pai e eu. Mas todos sabiam quais eram as atrações do festival. Mas, poxa, estávamos programando de ir desde que Troy ainda era um embrião! Enfim, minha mãe ainda aparece uma vez por mês, e traz Troy pra assistir futebol. Ele ama futebol, é só isso que eu sei sobre ele. E que ele tem 17 anos. Ou 16 ainda? Acho que é 17 mesmo. Ok Becca pode parar! Estou dramatizando bastante no quesito meu irmão. É claro que eu o conheço bem, somos até amigos. Quando ele nasceu eu ainda era pequena, brincava com ele como se fosse uma bonequinha. Mas, depois de anos prolongando as férias até a escola comunicar que eu ia perder meu ano letivo, voltei para Londres e segui minha vida vendo meu irmão duas a três vezes por mês.

Eu estava viajando nas lembranças da família quando percebi que meu pai havia adiantado bem o discurso e eu não estava prestando atenção. Mas nem me preocupei quando vi que ele ainda estava contando casos sobre os livros da década de 80. Resolvi interromper e fazer ele falar logo o que queria e parar com a encheção de linguiça.

- Pai, mas pra quê tudo isso? O que o senhor quer falar?
- Bom, filha, eu... - parecia que ele ia dizer "Vou morar num submarino e nunca mais vou te ver, então, adeus".
- Fala logo, anda! - eu ainda estava comendo porque parei pra pensar e deixei meu salmão esquecido no prato, logo salmão!
- Eu vou me casar de novo, é isso. - ele parecia aliviado, e eu também já que estava matando minha fome com meu prato predileto e ele não estava indo morar num submarino.
- Que legal pai! Com quem? - a pergunta foi um balde d'água nele e um tapa na minha testa. É claro que era com a Catherine, mãe da Anny, que ele era noivo desde que eu me lembre. Depois do silêncio, eu vi que dava tempo de consertar. - Quer dizer, com a Catherine, eu sei, mas quando?
- Daqui duas semanas mais ou menos. - disse bem calmo ao ver que eu não era totalmente desinteressada na vida dele.
- Que bom, vai ter festa?
- Acho que uma festa pequena, para alguns conhecidos. Mas você não ficou brava?
- Brava? Porque eu ficaria?
- Não sei Becca, ás vezes acho que estou fazendo tudo errado deixando você sozinha, e ainda fazendo você levar a Anny pros lugares que você vai.

Percebi um sentimento de culpa nas palavras dele. Parecia ter medo de viver a própria vida e me deixar viver a minha. Talvez por eu ser a filha mais velha, ou a preferida, já que Troy não teve contato com ele direito, e Anny o irritava com muita facilidade. Por um momento fiquei triste, e sentindo que eu poderia conversar mais com meu pai, que foi pra mim a única família durante os dias que eu não via a mamãe. Mas estava ficando muito triste e esquecendo meu salmão de novo, isso não está certo!

- Pai, eu te amo. Quero o melhor pra você. - ele abriu um sorriso lindo - E eu preciso de um vestido, um sapato e brincos novos pra festa. - o sorriso acabou na hora.
- Ah, mais gastos, meu Deus!

Acabamos de almoçar rindo e fomos buscar Anny na escola. Adivinhem de quem eu lembrei na hora em que eu a ouvi dizer pra amiguinha "Tchau Jessica Stone"? Alan Jones, é claro! Me contentei em não gritar a notícia pra toda a escola ouvir, e deixei pra contar só pra Anny, no carro. Ela entrou, se sentou, e logo foi dizendo "Oi irmãzinha" com o maior sorriso do mundo. O maior mesmo. Ela tem uma boca extraordinariamente grande, e quando ela força aquele maior sorriso cheio de ferrinhos colados, ele acaba virando o maior do mundo.

- Qual das suas amigas é a Jones? - perguntei já começando a me gabar por saber o nome dele
- A Sarah, por quê?
- Ela já o conheceu?
- Não, nunca, mas ela disse que a prima dela já o viu no supermercado! - Anny disse muito empolgada como se ter uma amiga cuja prima disse que viu Alan Jones no mercado, assim de longe, fosse uma grande coisa. Mal sabia ela o que ia contar pra tal de Sarah acabando com a moralzinha da prima - que psicologia infantil!).
- Bom, então fala com ela que a sua irmãzinha conheceu Alan Jones e ainda saiu no jornal com ele! - mostrei o jornal com a foto que não aparecia meu rosto, mas dava pra ver que era eu. A propósito, nem sei como esse jornal estava na minha bolsa. Já tinha até me esquecido dele. Ok, coloquei pra mostrar pra Anny mesmo, e talvez, pro Alan se por ventura eu o encontrasse. Rebecca patética!
- O QUÊ? MEU DEUS! MINHA IRMÃNZINHA NAMORADA DO ALAN JONES? - isso poderia ter saído um pouco mais baixo da boquinha dela. Mas, como de uma boca grande saem coisas grandes, meu pai não só ouviu como também resolveu opinar.
- O que é isso? Você tá namorando um músico? Porque não me contou? - ele tirou a atenção do trânsito e olhou pra mim esperando uma explicação.
- Não, foi um engano, essas coisas de fofoca. Você sabe como eles aumentam não é, pai?

Ele fingiu se conformar, mas continuou com a cara de bravo, e Anny continuou encantada com a foto procurando um jeito de provar pras amiguinhas que aquela era eu. Mas ela nunca ia conseguir, porque vocês sabem, era a foto da minha parte de trás!
Com muita pena, dei o jornal pra Anny quando saí do carro ao chegar em casa. Ela não tinha tirado o sorriso da cara o dia inteiro e com certeza aquele sorriso ia durar até alguém dizer que a namorada do Alan Jones não era a irmãzinha dela. Encontrei a casa vazia, e aproveitei pra relaxar já que a muito tempo não ficava em casa sozinha. Sempre tinha um Richard pra testar maquiagem nova, ou um James pra comer a geladeira inteira e arrotar todas as palavras que aprendeu no dia, ou então Geri ouvindo Spice Girls no volume máximo do som. Eu estava prestes a tomar um banho quente, depois deitar na cama e dormir, só isso. Não, quer dizer, eu ia comer também, é claro. Não podia dormir às sete da noite, muito menos sem comer nada. Tomei o banho, fiz um sanduíche de tudo-da-geladeira e depois fui dormir. Bom, já era nove horas e eu não tinha mais nada o que fazer. A casa ainda continuava em silêncio, como se um milagre tivesse acontecido. Apaguei todas as luzes e fui pro quarto me guiando só pela luz que vinha da rua. Antes de chegar na cama, eis que um barulho compensou todo aquele silêncio. Era Geri e James chegando com mais uns 50 amigos para uma festinha surpresa em plena terça-feira no apartamento que é metade dela e metade meu. Quem disse que eu dormi um minuto sequer? Além de me irritar com pessoas batendo na porta do meu quarto umas 798 vezes perguntando se era banheiro, eu ainda tive que colocar todo o estoque de algodão no ouvido pra poder escutar a música num volume que não estourasse meus tímpanos. Geri estranhou o meu cansaço, pois raramente eu dispenso festa ainda mais com os amigos modelos dela e do James, mas aquele dia foi realmente desgastante, com direito a passeio com o cachorro da Anny em Nothing Hill. Tudo que eu queria era dormir e só consegui tal fato às 03h45min da manhã quando o último convidado foi mandado embora. A partir daí, a noite foi tranquila e muito mais, a manhã. É claro que eu acordei às 2 da tarde, o que seria o ideal. Não, eu não acordei às 14h porque o Richard fez questão de me arrastar às 10h pra fazer compras. Meu Deus, esses meus amigos um dia me matam.