quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Cap'4 - E tudo se resume a uma noite só

Como se não bastasse Richard me enchendo a paciência com todos os rituais dele para dar sorte, meu sapato estava me machucando, eu não me lembrava de todas as receitas e minha maquiagem borrava a cada grito que Geri dava procurando suas coisas. Na quinta-feira eu, definitivamente, não tinha acordado fatal. Justamente no dia em que eu mais precisava! Meu primeiro dia de bartender. Eu já previa tudo. O loirinho ia me dar o bolo, Brian ia me mandar embora antes de me contratar e ainda por cima ia ter que esperar o fim da festa no carro, dormindo. Era tudo que eu não precisava naquele dia.

Depois de arrumarmos tudo, minha maquiagem saiu bonitinha, meu sapato já não me incomodava, fomos todos juntos pra boate do Brian. Eu nem conhecia o lugar, que era um pouco longe de nossa casa, e se chamava Frozzen. Chegamos relativamente cedo, pra poder não dar furo justamente no dia do meu teste. Quando saímos do carro um homem lindo, do tipo James veio ao nosso encontro como se fôssemos convidados VIP da festa. Nem precisa dizer que era o Brian não é? Sim, ele era tão lindo quanto James, só não parecia tão ogro. Se apresentou e foi logo me levando ao bar, pra tomar um drink. OK, não era pra tomar um drink. Era pra eu conhecer Melissa, a bar tender que ia me ajudar no teste. A mulher tinha quase o estoque inteiro de jóias da minha mãe pregado na cara. Tinha piercings em todos os lugares possíveis. Nariz, boca, sobrancelha e em outras partes que eu não ia querer ver, mesmo. Mas tinha um sorriso simpático e parecia ser bem paciente. Brian nos deixou sozinhas, e Melissa foi me apresentar às garrafas e dependências do bar. Era tudo tão lindo! Tinha bebidas de todas as cores, copos de todas as formas e muito gelo por toda parte. Aquilo parecia um lugar perfeito para ficar bêbado, digo, para trabalhar. Eu coloquei na minha cabeça naquela hora que eu teria que passar no teste de qualquer jeito. E que eu nao poderia quebrar nada, de jeito nenhum (o que iria ser extremamente difícil).

O DJ já estava aquecendo nossos ouvidos (pra não dizer, estourando nossos tímpanos), quando Brian voltou da área VIP, onde estavam todos os meus amigos que com certeza iria se divertir naquela noite, dizendo que queria experimentar alguma coisa que saísse rápido, tipo, em segundos. Eu surtei é claro! Imaginem o dono da boate mais bem freqüentada de Londres (informação ilustrativa, porque nem eu sabia que ela existia), um homem forte, moreno, bem arrumado, sentado na sua frente te pedindo um drink rápido mas que o agradasse, e isso tudo valendo um emprego ótimo que você começou a desejar desde que pôs os pés naquele lugar dominado por luzes roxas. Finji não estar pensando muito e tratei de fazer um drink simples com Cointreau, refrigerante de laranja e amoras. Eu sabia que ia ficar um caos, mas foi a primeira coisa rápida que me veio à cabeça. Caprichei na decoração e o drink estava nas mãos de Brian em alguns minutos. Após terminar o serviço, Melissa estava parada do meu lado, junto com os outros dois caras do bar, com a boca aberta parecendo que tinha acabado de ver um espetáculo no circo. Mas era só o drink mais rápido que eu sabia fazer. Me concentrei em analisar cada movimento do rosto do Brian, porque, vocês sabem, a gente nota na expressão da pessoa se ela gostou ou não, sem mesmo falar alguma coisa. Depois de beber um gole, Brian olhou pra mim com uma cara do tipo 'que gororoba, saia daqui agora'. Eu estava prevendo a cena. Ele ia cuspir tudo em cima de mim e jogar a taça no chão e ia correndo para o banheiro lavar a boca. Rebecca, você é uma idiota, deveria ter feito um drink clássico, não importa se ia demorar ou não! Mas ele não me deu tempo pra pensar! Eu estava totalmente sob pressão! Por favor, me dê outra chance!

- UAU! - foi o que ele disse. Simplesmente isso.
- Gostou? - perguntei me preparando pra receber um não maior do que o London Eye.
- O drink mais forte que já bebi, e só senti o gosto de amora! Magnífico, você já pode começar a trabalhar aqui agora mesmo!

O quê? Brian Crouch gostou do meu mix de licor de laranja com refrigerante de laranja e amoras? Eu tinha um emprego? Aquilo era um sonho? As luzes roxas estavam se tornando cada vez mais ofuscantes e eu não conseguia enxergar muito. Estava prestes a desmaiar. Ok, isso foi exagero. Mas que eu dei aquele meu sorriso enorme de 360 graus, isso eu fiz. Quase pulei no pescoço dele, mas fui interrompida pelo barulho da multidão que estava se espremendo pra entrar na mínima porta da boate. Sim, o meu verdadeiro teste estava por vir, e eu estava tranqüila, até que Melissa fez um comentário que me colocou totalmente descontrolada.

- Se prepara, hoje a boate costuma a lotar, você tem que ser perfeita, se não a crítica te põe no olho da rua!
- Ãnh? Ah, ok, obrigada!

Depois de alguns minutos já estavam abarrotando o balcão, modelos e músicos, atrizes e fotógrafos, gente insignificante e extravagante, pedindo ferozmente bebidas e mais bebidas. Nem eu, nem Melissa, nem os outros dois bar tenders (já disse que se chamavam Lucas e Logan?) conseguíamos atender todas aquelas pessoas. Era uma confusão que me botava tonta, mas era uma confusão interessante. Eu estava trabalhando no meio dela, e, melhor ainda, trabalhando pra gente bonita.

Depois de muito desespero, o bar ficou menos cheio, o que me proporcionava um descanso, mesmo que de alguns minutos. Geri chegou ao balcão pela primeira vez na noite, e com uma notícia péssima. Ok, era uma notícia neutra, já que não me interessava. Tá bom, eu confesso, fiquei nervosa com a notícia. Mas logo apaguei meu fogo, porque lembrei que a notícia realmente não me afetaria em nada. Ok, Alan Jones estava na boate. Sim, ele mesmo, o meu Alan Jones! Eu não podia acreditar! Mas logo depois do meu ataque por causa do lindo do Alan Jones, me lembrei do Johnny. É, o loirinho da loja do shopping. Ele ainda não tinha aparecido o que me fez pensar que tinha me dado bolo. E lá estava eu, querendo ver meu Alan Jones, mesmo sabendo que ele não iria lembrar de mim, uma desprezada por um vendedor de roupas cansada de fazer drinks e não poder bebê-los, vendo minha amiga se divertir no meio de tanta gente bonita. Nada é perfeito não é mesmo? Nada, muito menos a minha vida.

Eu já estava me acostumando com o ritmo da boate quando Melissa veio me falar uma coisa que mudaria minha noite. Eu iria trocar de lugar com o Josh, um dos barman da área VIP. Sim, porque área VIP, onde ficavam os mais VIPs do lugar, tinha bar específico. Fiquei super tranqüila com a notícia. Claro que estou mentindo, praticamente surtei quando ouvi a notícia. Tentei negociar meu salário com Melissa mas ela não aceitou ir no meu lugar, então, tive que ir mesmo. E lá estava eu, no bar da área VIP onde eu já tinha visto o cara do Keane, uns jogadores de futebol, o apresentador do Top Of The Pops e o James do antigo Busted. É, isso me deixou bem mais nervosa, mas tentei não me lembrar dessas coisas supérfluas até que me toquei que Alan Jones estaria lá também! Foi quando eu decidi desistir, mas era tarde. Já estava começando a fazer um drink pra loirinha daquele seriado que passa sábado à tarde e que eu não lembro o nome. Aquele lugar parecia realmente um seriado. Todo mundo ali parecia ter acabado de sair da televisão e eu, apenas fazendo os drinks que meu passado me ensinou.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Cap'3 - De volta à realidade (pt. 3)

No dia em que se acorda fatal, tudo dá certo.

Quem fala isso é o Richard, claro. Típica frase dele que serve pra qualquer um que por algum motivo, queria ficar mais cinco minutinhos na cama. Ele diz que quando a gente acorda fatal, nunca mais podemos dormir porque se não... Não fica mais fatal. Isso era um discurso vago e inventado por uma diva com vontade de fazer compras de madrugada. Com muito custo e um leve empurrão dele (que poderia ter derrubado o muro de Berlim), me aprontei e nem me olhei no espelho, já que tinha um personal stylist no meu quarto. Saímos de casa e andamos no shopping até ele encontrar uma camiseta onde se via escrito, claro, em rosa: I'm addicted do JW. Estávamos numa loja chamada JephiWallet. As iniciais vinham daí. Mas a paixão falou mais alto no coração e na cabeça da diva que leu "Sou viciado em JUDY WILSON". Não quis discutir, já que ele estava apaixonado pelo tal do cabeleireiro. Ter um amigo gay e uma amiga modelo é difícil para uma jornalista. Tem que ter um lado psiquiatra também. Richard resolveu experimentar a camiseta e eu arranjei um banquinho na loja para me sentar. Ia dormir ali, se não fosse pela música ensurdecedora que tocava dentro da loja. Tentei prestar atenção em alguma coisa pra não cair no sono. Depois de muita soneira, percebi que um dos vendedores vinha em minha direção. Wow! Ele era simplesmente magnífico! De uniforme que era uma calça preta e uma blusa branca. E eu provavelmente com uma roupa qualquer, uma cara de sono e quase dormindo no meio da loja. Dei um jeito de acordar e ele logo veio me cantando. Ok, ele não veio me cantando.

- Oi posso ajudar? - claro! Eu vou querer ver o preço de, vamos ver, você!
- Oi, não obrigada, eu estou esperando um amigo meu. - falei meio sem graça, ficando vermelha como sempre. Porque eu fico vermelha de ás vezes nem tenho vergonha? Mas, nesse caso eu tava com vergonha, afinal eu tinha acabado de acordar, e nem me olhei no espelho!
- Ok, mas precisando de mim é só ligar. - típico discurso de vendedor né, se precisar é só ligar! Ligar? Ligar pra onde?
- Ãn?

Ele sorriu e saiu para atender outra cliente. Eu fiquei encarando ele um bom tempo, até ele colocar a mulher pra dentro do provador e olhar pra mim de novo com aquele sorriso. Sabe? Aquele sorriso do tipo "to te paquerando, sua sonsa". E a sonsa com cara de tacho à uns 15 minutos. É, eu estava realmente fatal! Meu suicídio social ia ser fatal, eu ia ficar solteira pra sempre! Ele acabou de atender a moça e logo veio em minha direção de novo. Richard a essa hora estava engatado num papo provavelmente sobre o Judy Wilson com o outro vendedor, aparentemente diva como ele. O loirinho veio chegando perto e me encontrou com um sorriso menos retardado como o que eu estava anteriormente.

- Me desculpa, eu disse pra você ligar mas não te dei meu telefone!

O quê? eu estava ganhando um loiro lindo fácil assim? Que manhã maravilhosa! Será que ele ia fazer alguma brincadeira? Dar o telefone do amigo mais feio e mais encalhado dele? Agora eu tava com a cara de retardada de novo, e ele com o sorriso lindo de novo, enquanto escrevia o número num papel. - Toma. - ele estendeu o papel com o nome Johnny e um número de celular.

- Ah, claro. Meu nome é Rebecca, se você quiser saber - ele riu e ficou mais lindo, se isso é possível.
- Porque você não me dá seu telefone Rebecca? Assim posso ligar pra você, pra combinarmos de sair pra tomar um café, você gosta?
- Claro! É 765-873-879. - eu estava com cara de boba diante dele. Ele mal sabia meu nome e já estava querendo meu telefone pra sair e tomar um café. Aquilo só podia ser brincadeira. Ele ia me seqüestrar, é claro. E ia cortar meus dedos e mandar pro Richard em saquinhos cor-de-rosa. Meu Zeus, Rebecca, pára com esses pensamentos idiotas!
- Então, tenho que trabalhar! Te ligo mais tarde pode ser?
- Pode ser sim. - eu estava menos boba mais ainda mantinha o sorriso, afinal se eu fosse simpática talvez ele não cortaria meus dedos.

Richard enfim comprou tudo que queria, e saímos da loja. Contei sobre o Johnny pra ele que disse que havia percebido o interesse do loirinho por mim logo quando entramos na loja e eu sonsa estava cochilando no banquinho. Me pergunto: o quê esse cara viu em mim? Uma garota com cara de sono, cabelo bagunçado, roupa que não combinava com o sapato e um amigo gay comprando tudo rosa. Passei em frente a uma vitrine e finalmente me olhei. Fiquei absurdamente encantada com meu reflexo. Modéstia parte eu estava realmente fatal. Meus sapatos combinavam com minha roupa, meu cabelo, apesar de bagunçado, estava impecavelmente belo, minha cara parecia a da Geri quando ela saiu na Vogue (ok, menos linda, bem menos) e eu estava com o sorriso mais feliz do mundo. Eu estava linda! E estava me achando assim. Eu estava f-a-t-a-l! E naquele dia, tudo ia dar certo! E já tinha começado a dar certo! Primeiro, o vendedor lindo. Depois, a fila do BurguerKing estava mínima à minha frente (e imensa atrás de mim), todas as roupas bonitas, baratas e que o Richard não criticou serviram pra mim e, por fim, vimos o Orlando Bloom numa loja. Ok, o Orlando Bloom foi a melhor parte do dia! Meu Zeus, que homem é aquele? Ai.. como é bom morar em Londres!

Já era mais de meio dia quando Richard resolveu parar de contar fofocas sobre Britney Spears, Amy Winehouse e outras milhares de famosas que eram notícia no dia, e almoçamos tranquilamente no Cardeal. Estava tudo correndo normalmente (exceto o fato de Rebecca Dickens estar perfeitamente simples e maravilhosa, com roupas magníficas na bolsa de compras e com a imagem intacta de um Orlando Bloom dando uma olhada nas bermudas caqui da parte de trás daquela loja na cabeça. Isso tudo segundo palavras do Richard) quando meu celular tocou. Ele é um pouco escandaloso sabe? Ainda mais quando se está dentro de um restaurante onde se escuta apenas os barulhos dos garfos arranhando de leve os pratos. Quando olhei no visor estranhei porque não conhecia o número, mas logo caiu a ficha de que a algumas horas atrás eu tinha dado o meu número para o vendedor mais lindo daquele shopping. Fiquei muito nervosa antes de atender mas, por incrível que pareça, agi tranquilamente no telefone. Richard tem razão. Quando acordamos fatais, tudo dá certo!

- Alô?
- Oi, é a Rebecca?
- Sim, quem é? - fiz aquela voz desinteressada, é claro.
- Bem, não sei se vai se lembrar de mim, é o Jhonny, da JephiWallet. Nos conhecemos na loja hoje de manha e você... - é claro que o interrompi pra fazer um comentário me achando a mais má das mulheres.
- Ah, sim, me lembro! Não faz muito tempo isso não é verdade? - ai, que má!
- Er.. Me desculpe, mas como eu disse que ia ligar... err... gostaria mesmo de tomar um café com você, é claro, se for possível, e se você quiser... - interrompendo de novo, malíssima!
- Tá, vamos tomar o café. - claro que não! Eu acabei de almoçar, não quero café!
- Que ótimo, onde você está? Não posso demorar muito, estou no meu horário de almoço.. sabe como é...
- Ah, pois é. Eu tô no Cardeal, se você quiser vir até aqui, por mim tudo bem.
- Claro! É bem perto daqui, estarei aí em um minuto!

É claro que Richard estava escorando na mesa pra poder ficar mais perto do celular e conseguir alguma informação sobre a ligação. Mas logo depois que desliguei, ele, não se contentando em ter ouvido tudo que o tal Johnny tinha falado no telefone, me faz a pergunta: "E aí o que ele falou?" como se não soubesse exatamente do mesmo jeito que eu, o que Johnny tinha falado. Esperamos alguns minutos e lá estava ele, na porta do restaurante, impaciente, prestes a pegar o celular e me ligar pra saber onde ou estava. Mas não foi preciso pois logo que colocou a mão no bolso, me viu saindo com Richard. Nos cumprimentou como se eu fosse Demi Moore e Richard, Ashton Kutcher. Com os olhos brilhando iguais os de Richard quando vimos Orlando Bloom. Fomos caminhando até o café onde ele queria me levar, e Richard foi atrás. Chegando lá tive que dar uma diretíssima na minha diva do tipo: 'Richard, sai daqui? Obrigada'. E ele ainda demorou pra entender. Além de diva, é lerdo. O café era um lugar aconchegante. Haviam alguns casais em mesas diferentes e as paredes eram enfeitadas com coraçõeszinhos. Tudo muito romântico, eu hein. Quando vi que estava tudo lindo, me dei conta de que eu já havia constatado que aquilo era uma brincadeira de mal gosto. E ele ia me seqüestrar mesmo! Meu Zeus! Eu estava num café aconchegante com um Johnny lindo, vendedor de loja de roupa, prestes a morrer sufocada! Que drama Rebecca! Páre, já está passando dos limites! Ok.

Ele pediu um capuccino gelado e me deixou à vontade para pedir a mesma coisa, já que eu amava capuccino com sorvete. Ele ainda não tinha direcionado nenhuma palavra a mim. Pelo menos não diretamente. Parecia hipnotizado pelos coraçõeszinhos, ou pela música dos Hanson que tocava lá dentro. Ou quem sabe pela minha cara de idiota pensando essas coisas ao invés de puxar papo?

- Seus olhos não me deixam dizer nada - uau! Recitou um poema!
- Que isso! Não é pra tanto! Não sei o que você viu em mim, sinceramente! - se é pra ser fatal, vamos ser fatais mesmo não é?
- Bom, eu vi essa mulher linda que você é, ora.

Meu lado fatal, má, ou qualquer coisa negativa ficou esmagado debaixo do enorme sorriso idiota que eu deu sem querer depois de ouvir isso. Parecia brincadeira, mas estava acontecendo mesmo! E eu não podia estragar aquilo com o sorriso mais bobo da face da terra. Então resolvi voltar a ser fatal.

- Obrigada - pra não falar o que eu queria fiquei quieta mesmo.
- Você tem namorado Rebecca?
- Lógico que não... - ah, pronto. Que resposta desesperada é essa? 'Lógico que não'? Só faltou dizer 'você quer namorar comigo?'. Rebecca você é patética ao extremo! - ...que não vou responder antes de você.
- Eu não tenho namorada, terminei um relacionamento de dois anos à alguns meses... E então?
- Eu também terminei faz pouco tempo, mas não queremos falar disso, não é?
- Eu prefiro falar de relacionamentos futuros, a falar de relacionamentos passados. - a cara de safado que todo homem sabe fazer reinava na minha frente.

Depois de conversamos um tempinho, descobri que ele é aspirante à ator, fez umas propagandas para a JephiWallet, gosta de música clássica, e mora com o cachorro numa rua perto da - adivinhem - minha. O tempo era bem curtinho mesmo, pois ele tinha que voltar ao trabalho, e eu tinha que procurar um também. Me convidou para sair na quinta feira e eu sem pensar, aceitei claro. Mas depois de alguns segundos após o 'sim', me lembrei do teste na boate. Quinta era o único dia de folga dele, então, não hesitou em aceitar ir à boate e me ver fazendo drinks. O que me deixaria mais nervosa e mais propícia a quebrar as coisas do lugar e consequentemente não levar o emprego. Mas, pensando bem, vão ter centenas de pessoas lá e um a mais, um a menos não ia fazer diferença.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Cap'3 - De volta à realidade (pt. 2)

Minha filha, bar tender

- Nem pensar! Isso é falta de respeito! Onde já se viu uma menina que estudou pra ser uma jornalista, passar as noites embebedando as pessoas, dançando num balcão que pega fogo com quase nenhuma roupa e esguichando água nas pessoas que pedem um copo de refrigerante!
- Pai, isso é um filme.
- É, eu sei mas você vai se tornar uma daquelas garotas do filme. - Não estava reconhecendo meu próprio pai. Aquele que sempre voltava para casa contando as histórias das festas que ele ia, contando os podres das pessoas, me ensinando um drink novo.
- Mas pai, foi você que me ensinou a fazer todos os drinks que eu sei! - ops, nem todos!
- Fui eu. - ele abaixou os olhos e me deu um susto depois – Filha, estou orgulhoso!!!

Hein? Como assim? Orgulhoso? Num minuto ele quase me deserda e no outro está orgulhoso? Fiquei feliz por não ser o contrário. Acho que ele pensou nas festas que ele ia, o que não era nada parecido com Show Bar.
Na verdade havia festas que tinham como objetivo destruir uma família com todas aquelas garotas de biquíni servindo drinks e outras coisas mais. Mas, ele deve ter pensado nas outras festas em que todos saíam felizes e bêbados.
Fomos almoçar juntos num restaurante qualquer e ele começou a preparar um discurso que tinha potencial pra durar até a hora do jantar. Começou falando de como éramos felizes quando morávamos todos juntos, como tínhamos planos pra sermos uma família feliz para sempre, e depois se lembrou de como nossos planos de desfizeram. Sim, meus pais se separaram quando eu tinha nove anos por causa da minha mãe. Eu já contei que ela é escritora e vendeu muitos livros na década de 80, não é? Não? Bom, pois ela é escritora e vendeu muitos livros na década de 80. Ela continua a escrever, mas agora seus livros são sobre a vida no campo. Desde quando ela ficou grávida do Troy (Troy é meu irmão mais novo), ela resolveu escrever no campo. Mudou-se para a casa da vovó em Glastonbury, ainda grávida, e nem se preocupou em deixar o papai em Londres e a querida filha de 9 anos com ele. Depois que Troy nasceu, ela optou por nos visitar duas vezes por mês. Se tivéssemos feito planos de ficarmos juntos eu e o papai, ela e Troy teríamos alcançado o objetivo. Troy fez aniversário à alguns meses e fomos todos (eu disse todos, isso inclui Geri, Richard, James, um italiano qualquer, papai, Catherine e Anny) pra festa, e é claro, ficamos sabendo que por lá acontece um festivalzinho legal em que a gente se divertiu um pouco.Pausa para confissão: é claro que nós programamos tudo pra irmos no festival de Glastonbury que perfeitamente acontece perto do aniversário do meu irmão amado. Ninguém sabia quantos anos Troy estava fazendo, fora o meu pai e eu. Mas todos sabiam quais eram as atrações do festival. Mas, poxa, estávamos programando de ir desde que Troy ainda era um embrião! Enfim, minha mãe ainda aparece uma vez por mês, e traz Troy pra assistir futebol. Ele ama futebol, é só isso que eu sei sobre ele. E que ele tem 17 anos. Ou 16 ainda? Acho que é 17 mesmo. Ok Becca pode parar! Estou dramatizando bastante no quesito meu irmão. É claro que eu o conheço bem, somos até amigos. Quando ele nasceu eu ainda era pequena, brincava com ele como se fosse uma bonequinha. Mas, depois de anos prolongando as férias até a escola comunicar que eu ia perder meu ano letivo, voltei para Londres e segui minha vida vendo meu irmão duas a três vezes por mês.

Eu estava viajando nas lembranças da família quando percebi que meu pai havia adiantado bem o discurso e eu não estava prestando atenção. Mas nem me preocupei quando vi que ele ainda estava contando casos sobre os livros da década de 80. Resolvi interromper e fazer ele falar logo o que queria e parar com a encheção de linguiça.

- Pai, mas pra quê tudo isso? O que o senhor quer falar?
- Bom, filha, eu... - parecia que ele ia dizer "Vou morar num submarino e nunca mais vou te ver, então, adeus".
- Fala logo, anda! - eu ainda estava comendo porque parei pra pensar e deixei meu salmão esquecido no prato, logo salmão!
- Eu vou me casar de novo, é isso. - ele parecia aliviado, e eu também já que estava matando minha fome com meu prato predileto e ele não estava indo morar num submarino.
- Que legal pai! Com quem? - a pergunta foi um balde d'água nele e um tapa na minha testa. É claro que era com a Catherine, mãe da Anny, que ele era noivo desde que eu me lembre. Depois do silêncio, eu vi que dava tempo de consertar. - Quer dizer, com a Catherine, eu sei, mas quando?
- Daqui duas semanas mais ou menos. - disse bem calmo ao ver que eu não era totalmente desinteressada na vida dele.
- Que bom, vai ter festa?
- Acho que uma festa pequena, para alguns conhecidos. Mas você não ficou brava?
- Brava? Porque eu ficaria?
- Não sei Becca, ás vezes acho que estou fazendo tudo errado deixando você sozinha, e ainda fazendo você levar a Anny pros lugares que você vai.

Percebi um sentimento de culpa nas palavras dele. Parecia ter medo de viver a própria vida e me deixar viver a minha. Talvez por eu ser a filha mais velha, ou a preferida, já que Troy não teve contato com ele direito, e Anny o irritava com muita facilidade. Por um momento fiquei triste, e sentindo que eu poderia conversar mais com meu pai, que foi pra mim a única família durante os dias que eu não via a mamãe. Mas estava ficando muito triste e esquecendo meu salmão de novo, isso não está certo!

- Pai, eu te amo. Quero o melhor pra você. - ele abriu um sorriso lindo - E eu preciso de um vestido, um sapato e brincos novos pra festa. - o sorriso acabou na hora.
- Ah, mais gastos, meu Deus!

Acabamos de almoçar rindo e fomos buscar Anny na escola. Adivinhem de quem eu lembrei na hora em que eu a ouvi dizer pra amiguinha "Tchau Jessica Stone"? Alan Jones, é claro! Me contentei em não gritar a notícia pra toda a escola ouvir, e deixei pra contar só pra Anny, no carro. Ela entrou, se sentou, e logo foi dizendo "Oi irmãzinha" com o maior sorriso do mundo. O maior mesmo. Ela tem uma boca extraordinariamente grande, e quando ela força aquele maior sorriso cheio de ferrinhos colados, ele acaba virando o maior do mundo.

- Qual das suas amigas é a Jones? - perguntei já começando a me gabar por saber o nome dele
- A Sarah, por quê?
- Ela já o conheceu?
- Não, nunca, mas ela disse que a prima dela já o viu no supermercado! - Anny disse muito empolgada como se ter uma amiga cuja prima disse que viu Alan Jones no mercado, assim de longe, fosse uma grande coisa. Mal sabia ela o que ia contar pra tal de Sarah acabando com a moralzinha da prima - que psicologia infantil!).
- Bom, então fala com ela que a sua irmãzinha conheceu Alan Jones e ainda saiu no jornal com ele! - mostrei o jornal com a foto que não aparecia meu rosto, mas dava pra ver que era eu. A propósito, nem sei como esse jornal estava na minha bolsa. Já tinha até me esquecido dele. Ok, coloquei pra mostrar pra Anny mesmo, e talvez, pro Alan se por ventura eu o encontrasse. Rebecca patética!
- O QUÊ? MEU DEUS! MINHA IRMÃNZINHA NAMORADA DO ALAN JONES? - isso poderia ter saído um pouco mais baixo da boquinha dela. Mas, como de uma boca grande saem coisas grandes, meu pai não só ouviu como também resolveu opinar.
- O que é isso? Você tá namorando um músico? Porque não me contou? - ele tirou a atenção do trânsito e olhou pra mim esperando uma explicação.
- Não, foi um engano, essas coisas de fofoca. Você sabe como eles aumentam não é, pai?

Ele fingiu se conformar, mas continuou com a cara de bravo, e Anny continuou encantada com a foto procurando um jeito de provar pras amiguinhas que aquela era eu. Mas ela nunca ia conseguir, porque vocês sabem, era a foto da minha parte de trás!
Com muita pena, dei o jornal pra Anny quando saí do carro ao chegar em casa. Ela não tinha tirado o sorriso da cara o dia inteiro e com certeza aquele sorriso ia durar até alguém dizer que a namorada do Alan Jones não era a irmãzinha dela. Encontrei a casa vazia, e aproveitei pra relaxar já que a muito tempo não ficava em casa sozinha. Sempre tinha um Richard pra testar maquiagem nova, ou um James pra comer a geladeira inteira e arrotar todas as palavras que aprendeu no dia, ou então Geri ouvindo Spice Girls no volume máximo do som. Eu estava prestes a tomar um banho quente, depois deitar na cama e dormir, só isso. Não, quer dizer, eu ia comer também, é claro. Não podia dormir às sete da noite, muito menos sem comer nada. Tomei o banho, fiz um sanduíche de tudo-da-geladeira e depois fui dormir. Bom, já era nove horas e eu não tinha mais nada o que fazer. A casa ainda continuava em silêncio, como se um milagre tivesse acontecido. Apaguei todas as luzes e fui pro quarto me guiando só pela luz que vinha da rua. Antes de chegar na cama, eis que um barulho compensou todo aquele silêncio. Era Geri e James chegando com mais uns 50 amigos para uma festinha surpresa em plena terça-feira no apartamento que é metade dela e metade meu. Quem disse que eu dormi um minuto sequer? Além de me irritar com pessoas batendo na porta do meu quarto umas 798 vezes perguntando se era banheiro, eu ainda tive que colocar todo o estoque de algodão no ouvido pra poder escutar a música num volume que não estourasse meus tímpanos. Geri estranhou o meu cansaço, pois raramente eu dispenso festa ainda mais com os amigos modelos dela e do James, mas aquele dia foi realmente desgastante, com direito a passeio com o cachorro da Anny em Nothing Hill. Tudo que eu queria era dormir e só consegui tal fato às 03h45min da manhã quando o último convidado foi mandado embora. A partir daí, a noite foi tranquila e muito mais, a manhã. É claro que eu acordei às 2 da tarde, o que seria o ideal. Não, eu não acordei às 14h porque o Richard fez questão de me arrastar às 10h pra fazer compras. Meu Deus, esses meus amigos um dia me matam.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Cap'3 - De volta à realidade (pt. 1)

Como alguém não consegue ser a namorada de Alan Jones por muito tempo, na segunda-feira o episódio já não estava mais em pauta nas nossas conversas matinais que geralmente são cheias de mau-humor matinal e cereais matinais esparramados pela mesa, o que traz mais mau-humor ainda. Logo depois que Geri saiu de casa pra trabalhar (se é que posar para câmeras pode-se chamar de trabalho) eu fiquei em casa me culpando por não ter um emprego mesmo ele não sendo tão fácil como o de Geri. Então eu cansei de não fazer nada e dei um jeito de andar na rua pra procurar um. Da última vez que eu fiz isso deu certo. Comecei a trabalhar numa banca de jornais. Pelo menos eu lia as noticias antes de todo mundo! Dessa vez eu ia ter que achar alguma coisa melhor do que um emprego que me fizesse voltar pra casa com cheiro de papel velho. Andei o bairro inteiro e adivinhem? Nada.
Já era tarde e eu estava no super-mercado comprando tudo que eu queria comer já que não tinha mais nada pra fazer a não ser sentar na frente da TV e comer. Acabei achando aquela bebidinha vermelha, docinha e altamente alcoólica. Cooler de vinho. Me lembrei que aquilo ficava muito bom se misturado com vodka preta e muito gelo. E também me lembrei automaticamente das noitadas em que eu quando adolescente (não faz tanto tempo) desfrutava dos elogios de todo mundo a respeito das bebidinhas que eu fazia. Eu era praticamente uma Coyote, mas sem as roupas mínimas daquelas garotas (e sem o balcão pegando fogo, e as posições pouco pornográficas na frente dos clientes). Bons tempos aqueles, viu? "Vou levar alguns ingredientes para embebedar a Geri" pensei alto como sempre.

- Cheguei gente! - eu lutava pra conseguir abrir a porta com o imenso saco de compras no colo
- Entra aí - deu pra ouvir a Geri lá de dentro
- Tô tentando.
Depois de alguns minutos minha querida amiga resolveu abrir a porta provavelmente pelo medo de que eu pudesse ter sido raptada (ela tem essa coisa de pânico, síndrome do pânico, alguma coisa assim).
- Nossa, você não sabe abrir uma porta não é? - ela ainda reclamava! Eu tinha feito compras pensando nela e ela me atende desse jeito? Garota ingrata!
- Não me faça estressar com você Geri, tenho uma surpresa!
-Surpresa? O que é? Você ta namorando o Jones? Ele te ligou? O quê? - eu tinha passado o meu dia sem pensar nisso e é tudo o que ela tem em mente.
- Claro que não! É uma coisa muito boa você vai ver, não entre na cozinha! - eu disse, indo direto pra cozinha sem deixar ela ver o que tinha na sacola.

Coloquei tudo em cima do balcão e comecei a preparar as bebidinhas. Poderia ser uma ótima bar tender, se não fosse o meu perfeito desequilíbrio e falta de atenção quando ouço as palavras "garrafa de vidro". Mesmo assim, tentei fazer tudo sem quebrar nada, o que iria chamar a atenção da Geri. Depois de muitas misturas, acabei fazendo três tipos bem rapidinho e fui logo servindo pra ingrata da minha amiga que já estava com James na sala. Depois de um grito enorme, lembranças das festas da escola, ela finalmente experimentou.

- MEU DEUS! D-i-v-i-n-o! - bebeu tudo num gole só, sem nem saborear nada.
- Também quero! - James pegou a bebida rosa, que era feita com bala de cereja e tequila, bem doce.
- Becca, eu não me lembrava do quanto você era boa nisso!
- É claro, você nem sabia beber quando tinha 15 anos, Geri.
- AI QUE TROÇO FORTE!! - James soltava um grito estranho junto com uma cara que apesar de toda a beleza do sujeito, ficou muito feia.
- Credo James, esse é o mais fraco, amor. E ainda é docinho! - Geri dava outra golada matadora acabando com o que tinha na taça dele. - AII GENTE, o que tem nisso amiga? - agora Geri fazia uma cara de quem bebeu pinga e foi na roda gigante.
- Tequila, bala e gelo. Só. - como uma chef de boteco, suprema.
- Ui tá ótimo, desce mais um aê! - Geri aprende a falar assim por causa da intensa convivência com James, coitada.
- Acabou, mas se quiser eu faço mais.
- Eu conheço alguém que ia adorar esse seu talento, Becca. - esse foi James falando acredita? Ás vezes ele consegue conversar como um ser humano comum.
- Ah é? Quem? - perguntei, fingindo estar interessada, porque com certeza ele ia dizer "o Brian, meu amigo, ele ama garotas que bebem até cair" ou então "a Hanna, minha cachorra, ela adora lamber o resto de cerveja das garrafas".
- O Brian - eu estava certa como sempre - meu amigo - mais certa impossível! - ele estava louco atrás de uma garota para o cargo de bar tender lá na boate.

Ok. Eu estava meio certa. Eu sabia que ele falaria do Brian, o amigo inseparável. Só não sabia que ele era dono de uma boate, e nem de que precisava de uma bar tender. Fiquei realmente interessada, mas logo pensei que eu não seria capaz de trabalhar como bar tender de uma boate. Nunca! Esqueceu da minha simpatia com as palavras "garrafa de vidro"? Definitivamente, não daria certo, eu ia ser demitida na primeira noite, e ainda teria que pagar por tudo que eu quebrasse. Mas espera aí, quem disse que eu iria ser contratada? Eu sou uma leiga no assunto "drinks", mal posso distinguir o sabor das coisas. Tá certo que eu ganhei até prêmio nos tempos de colégio, mas eu fazia misturas para adolescentes de 15 anos, ninguém sabia o que era álcool. Rebecca, pára de pensar alto e volte a conversar com seus amigos!

- Ah, que isso James, nem sei fazer drinks tão bem assim!
- Não? Claro que sabe! Esses drink é muito mais bom do que lá - James voltou ao seu normal "analfabeto"
- Além disso, Becca, você está precisando de um emprego, não está? - Geri sabe botar a gente pra cima não é?
- É, mas eu não sei se é o emprego ideal pra mim gente, além do mais, meus drinks não vão agradar o Brian! - quem quer que seja esse tal de Brian.

Depois de implorarem pra eu fazer mais milhares de combinações de vodka, tequila, bala, sucos, refrigerante, e tudo que tinha na geladeira, os dois bêbados resolveram ligar pro Brian em plena segunda-feira às onze da noite. Não os impedi, é claro. Afinal, eu estava disposta a testar se realmente conseguiria um emprego com meus conhecimentos adolescentes. James falava alto com o amigo no telefone, o que deve tê-lo deixado de muito bom humor naquela hora. No meio de soluços, risos e gritos, combinaram que eu poderia fazer um teste na quinta-feira. Fui dormir rezando pra que aquela mistura toda não deixasse os dois no meio da sala onde no outro dia, meu pai iria pisar. Aliás, não contei a ninguém, mas meu pai estava vindo me visitar e era na manhã seguinte.
[continua...]

Cap'2 - E vamos ao mundo VIP! (pt. 3)

Fase do "Eu não acredito"

"Fomos embora para casa. Nós quatro. Eu e Richard fomos conversando sobre nossos rolos da noite e ele não acreditou quando ouviu que aquele Deus era Alan Jones de uma banda de rock. Ele não acreditou mesmo. Só ia conseguir provar pra ele quando chegasse em casa e ligasse a TV no Top Of The Pops. Aí ele ia ver que eu não estava mentindo. Ele contou tudo sobre tratamento capilar e piercing na língua (Judy Wilson tem piercing na língua, Ew!). Combinamos de pedir pizza e ficar conversando o resto da noite, mas, sabe como é, Geri e James de carro sozinhos pelas ruas de Londres ás três da manhã... Não sabe como é? Ah, me desculpe. Ainda tem gente inocente nesse mundo? Ou gente encalhada? Fica a seu critério!
Demoraram, mas chegaram. Estávamos todos no chão da sala, quando eu comecei a contar sobre o Alan. Geri não acreditou. Mas no sentido de "Meu Deus, isso é demais", ao contrário de Richard que foi no sentido "Não acredito, você está mentindo, idiota". Por sorte, havia uma revista velha no meio de milhares que ficam na sala onde se via uma foto do Glum e Richard, então, pôde mudar de sentido sua frase "Não acredito!", concordando com a Geri. Pena que o resultado foi: policiais acabando com a festa VIPzinha. Depois de meia dúzia de frases ditas por mim, James já estava babando no sofá (mesmo assim babando lindamente, err.. silencio!) e Geri devorando a pizza (Pausa pra uma observação: ela come mais do que eu e continua magra e linda e sem celulite, perfeita e Geri Phillips. Ok, eu me conformo) junto com Richard que só comia as bordas de queijo. Acabou que todo mundo dormiu lá em casa. Alguns ali na sala (Geri e James? Sim, dormiram. Tinham que ter um descanso né?). Outros preferiram a cama macia, o banho quente e o programa de Judy Wilson na TV (Eu pelo banho e pela cama. Richard pelo programa. Ok, eu também pelo programa). Dormimos tranquilamente, e eu estava tão exausta que nem sonhei com o meu Alan VIPzinho.
No outro dia estavam de pé logo cedo. Ás duas da tarde. Uma ótima hora pra se acordar depois de uma noite emocionante daquelas. Mas, infelizmente não foi bem assim, tão cedo. Foi um pouco mais, culpa do Jones! Fui a primeira a acordar, uma meia hora antes do povo. Eram nove da manhã quando mudei de roupa e fui até a padaria próxima à nossa casa e comprei café pra todo mundo. E cookies. E muffins. E waffles. E pãezinhos de mel com recheio de chocolate. Tá bom. Chega, não vou dizer tudo que eu comprei ok? Ah, o jornal também. Mas eu nem o abri. Só dei uma olhadinha nas reportagens de capa, mas só isso. Claro que a reportagem do dia era "Festa VIP financiada pelo tráfico". Aquelas palavras eram tão emocionantes e estavam falando sobre a festa em que nós estávamos em que eu conheci Alan Jones e ele..
"...É FLAGRADO COM NOVA NAMORADA"
Era essa a reportagem do caderno de fofocas (sim, acabei abrindo, mas a culpa é do cara dos muffins que tava demorando e então não consegui esperar) do SundayMorning (rain is falling.. Isso não te lembra a música? Ah, esquece!)
- EU NÃO ACREDITO! - gritei alto pra acordar a Geri mas acabei acordando o James e o Richard também. E provavelmente a senhora Spoon do andar de cima.

"JONES É FLAGRADO COM NOVA NAMORADA
O guitarrista Alan Jones foi flagrado com sua nova namorada com nome ainda desconhecido na festa que gerou boatos na noite passada. Antes do incidente acontecer, os dois estavam num clima de romance na festa e amigos do casal afirmam que é pra valer! Uma fonte próxima de Alan revela: "Alan está realmente curtindo a garota. Estão se dando super bem, ele está apaixonado!". Alan que tem fama de galinha, será que sossegou agora? Aguardamos mais festas polêmicas!"


- Meu Deus! Agora eu acredito, MESMO! - Richard comia os muffins e escutava James lendo a reportagem em voz alta na cozinha.
- Aê Becca pegano geral heim pode cre - James não era perfeito. Olha o vocabulário!
- Gente, isso tudo é uma mentira sem tamanho! Eu não sou a namorada do Jones, e nem peguei geral. A gente só tava conversando na festa, só isso!
- Só isso por culpa da máfia, né amiga?
- É Geri, é.
Depois de ficar horas discutindo minhas 5 linhas de fama, que se transformaram em vinte quando abrimos o jornal e encontramos a matéria na íntegra, falando sobre a vida social de Alan Jones, eu me perguntei se ele ainda não tinha sacado que eu sabia que ele era ele na noite anterior. Mas depois me veio aquele ar realístico que me fez pensar que naquele momento ele estaria fazendo tudo e qualquer coisa, menos se preocupando com isso, já que pra ele não fazia diferença nenhuma sair ou não no jornal de domingo. Não preciso dizer que eu quase me senti uma atriz famosa por ser fotografada por um papparazzi e ter aparecido no jornal, mesmo que a foto seja da minha, vamos dizer assim, parte de trás!
Richard ainda ficou algumas horas a mais babando na foto, imaginando se ele não poderia ter aparecido nela, quando deu um grito que quase acordou a senhora Spoon de novo. Sim, ele descobriu que seu braço estava na foto, depois de analisar friamente as circunstâncias de localização do fotógrafo e essas coisas de gente paranóica. Fui dormir deixando ele na sala com a atenção presa no programa do Judy e a foto do jornal."

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Cap'2 - E vamos ao mundo VIP! (pt.2)

"Fomos andando pra perto da piscina onde tinha uma varanda enorme com muitas mesas, cadeiras, tudo de ouro. Não, não era de ouro, mas poderia ser porque era VIP o lugar. E as pessoas eram muito VIPs também, alguma dúvida? Alan Jones estava comigo na festa. E ele ainda não sabia que eu sabia que ele era o Alan Jones. Resolvi conversar discretamente sobre, porque em algum momento eu ia dar o ataque e ele ia embora na hora.
- E então, já que você é o Alan VIPzinho, o que te torna VIPzinho aqui essa noite?
- Bem, eu tenho uma banda. Toco com meus amigos.
- E eu conheço essa banda? - Acho que isso soou "alô, você acha que eu não sei quem você é?”
- Talvez sim, talvez não, mas isso não importa agora não é? - importava sim porque eu ia soltar que eu o conhecia alguma hora com certeza!
- Então tá Alan VIPzinho, fica assim, no mistério.
-E você? Sua amiga é?
- Modelo. Geri Phillips.
- Ah sim, claro! Conheço muito ela! - ele disse convicto. Como Geri Phillips é amiga de Alan Jones e nunca me disse? Talvez porque se ela fosse me dizer todos os caras lindos, fortes, de olhos azuis que ela conhecia não ia poder conversar sobre mais nada. Não sobraria tempo.
- Sério? Conhece ela?
- Não - ele riu alto e pediu ao garçom Cuba Libre. Ah, ele não conhecia Geri. Menos mal! Geri não escute meus pensamentos por favor!
- Você aceita alguma coisa, linda? - LINDA? Eu acho que vou aceitar um Alan Jones com cereja por favor!
- Ala.. Oh, Martini com cereja por favor.
- Você ia dizer Ala.. ? - ele chegou mais perto com cara de dúvida. O que eu ia fazer hein? Dizer "eu ia pedir você com uma cereja na boca"?
- Ala..? Ah, é. Ala.. Alameda! Isso! É o nome de uma bebida muito boa, mas que eles não têm aqui. - pareceu aquelas desculpas de seriados que incrivelmente as pessoas acreditam. E ele não acreditou é claro.
- Sei.. Mas então Rebecca, o que você faz da vida?
- Eu sou jornalista, mas atualmente o que eu faço é ver The O.C., Friends, e uns programas muito educativos nas madrugadas porque eu estou desempregada. Que feio! - que horrível! Você acha que Alan Jones ia querer ver a Victoria's Secret que combinava com o vestido de uma desempregada? Nunca! Olha os pensamentos de depois da oito horas caindo sobre mim!
- Que feio! - ele fez cara de bravo, igual uma criancinha - Jornalista sem emprego em Londres? Você gosta de escrever sobre o quê?
Futebol! Eu ia falar de cara, mas ele ia me achar muito bruta, moleque. Animais! "O mundo é cheio de insetos e eu tenho medo de 90% deles". Não. Fofocas! Ele ia sair correndo. Já sei, gosto de escrever sobre os seres humanos no planeta e...
- Futebol! - melhor eu não arriscar, vai que ele sabe alguma coisa de ciências.
- Que legal! Isso é o máximo! Você torce pra qual time? - ele se empolgou com a conversa, eu imaginei como seria se o papo fosse a origem da vida. Ew!
- Eu torço pelo Arsenal e você? Gosta de futebol?
- Mas é claro! Eu sou Manchester! E não acredito que você torce pro Arsenal, eles são péssimos, dude! - ele parou de falar e de rir também. - Não acredito que estou discutindo futebol com uma garota linda como você!
Pronto eu sabia, alguma coisa me dizia "Rebecca, não fala Futebol! Ele vai querer jogar bola com você no domingo e não dormir na sua cama hoje!". Rebecca pervertida, cale-se!
- Algum problema? - eu disse indignada, porque mulheres também entendem de futebol e devem sim discutir sobre o assunto e...
- Absolutamente fantástico! Se minha namorada gostasse de futebol eu nem ligaria se ela torcesse pelo Arsenal! - soletrando: N-A-M-O-R-A-D-A. Good bye Alan Jones, good bye Victoria's Secret combinando com o vestido (não good bye no sentido 'tchau, eu te perdi', mas no sentido 'tchau, ele te perdeu').
- Sua namorada não gosta de futebol? Que loser! - queria parecer que eu não estava ali pra beijar logo ele, mas acabou que eu falei mal a namorada, e ainda devo ter feito uma cara não muito boa, definitivamente.
- Não... - ele foi interrompido pelo garçom que trazia as bebidas. Eu estava rosa, prestes a ficar vermelha pelo que eu disse sobre a namorada dele. - Eu não tenho namorada. Solteiro na praça.
Hmmm, piadinha sem graça. Precisa de aulas como eu. Seth Cohen deveria abrir uma turma sabe, quem sabe uma escola? Peraí? Solteiro na praça? Foi sem graça mas foi muito interessante.
- Hmmm... - Olha só mais uma cantada prestes a se formar. Mas vou arranjar uma desculpa pra não continuar. - Solteiro na praça? Alguém pode chamar Seth Cohen?
Ele gargalhou tão alto que as pessoas que estavam em volta olharam pra ele com ar de reprovação.
- Ahh, pensei que ia ser uma cantada, tava até feliz! - OH MY GOD! (bem no estilo Janice) Liberou geral galera, Alan Jones é meu! O quê?
- Ia ser uma, mas achei melhor falar sobre o Seth.
- Está dizendo que eu sou pior do que o Seth? - ele chegou mais perto, e mais perto e mais perto, mas não estava tão perto. É que ele estava meio longe antes.
- E você é melhor?
- Você já o provou? - ele riu da piadinha besta que tinha feito.
- Não, e nem provei você! Não vou poder fazer a comparação. - Wow! Isso foi, vamos dizer, pseudo-Cohen.
- Não provou, AINDA! - precisa dizer o que aconteceu depois disso? Precisa, porque não foi isso que vocês estão pensando. Poderia ser: "Ele me puxou pela cintura e me beijou enquanto tocava Someday We'll Know na pista. As luzes coloridas iluminavam aquele momento lindo." Mas foi: um cara quase tão bonito quanto ele o puxou pelo braço e alertou quanto à multidão que se aglomerava na porta do hotel. As luzes vermelhas e azuis piscavam quase botando a gente cega! Fomos até a porta e com muito custo ouvimos o policial anunciar.
-Fim de festa pessoal, o dono desse luxuoso hotel é um membro da máfia que comanda o tráfico internacional de órgãos e está roubando os seus fígados. Obrigado, tenham uma boa noite!
Flashes de todas as câmeras de todos os jornais de todos os países do mundo estavam piscando sem parar. A festa realmente havia acabado, todo mundo tava indo embora e o meu Alan Jones.. Ué? Cadê meu Alan Jones? Se foi com a multidão. É claro que ele não ia gostar nem um pouco de sair nas manchetes como um convidado da festa da máfia. Por mim, tava tudo bem aparecer ou não no jornal. Pelo menos ia ser notícia por um dia. No caderno policial. Ia ser emocionante...
Antes de começar a pensar futilidades como sempre, procurei alguma cara conhecida, mas não tinha nem sinal de Richard, nem Geri, nem James, nem Alan VIPzinho. Ninguém. Resolvi me sentar num banco perto de uma janela que dava para a rua e esperar alguém passar por ali, ou lembrar de mim e vir me resgatar. Quando olhei pela janela lá estava ele. O meu Jones, entrando no carro e dando a imensa sorte de alguém gritar "Kate Moss" e apontar para um outro carro longe do dele. Estava livre dos papparazzi. Foi embora, e levou junto minha vida. Não, minha vida não, mas minha chance de alguém (além da Geri e do Richard) ver que meu vestido combinava com minha lingerie. No meio daquela confusão, ninguém aparecia. Resolvi ligar pra alguém. Geri atendeu e quase estourando os tímpanos das pessoas que estavam em minha volta, ela gritou:
- Becca, cadê você??? Heim?? Você tá bem?? Tá com quem?? Onde?? Cadê?? Fala alguma coisa Rebecca!!!
- Cala a boca pra eu falar, né?
- Ah que bom você tá bem!! Onde você tá? - E me levantando do banco eu vi Geri, James e Richard a uns três metros de mim. Desconfiei porque podia ouvi-la sem o telefone que desliguei pra ir ao encontro deles. É claro que ela ficou desesperada quando eu desliguei e nem viu que eu estava exatamente atrás dela.
- Gente cadê ela? A ligação caiu! Será que ela foi presa? Será que a confundiram com alguém? Hein gente me ajuda!!
-Oi lesada, tô aqui. - ela se virou e me deu um abraço como se eu fosse uma sobrevivente do Titanic." [continua...]

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Cap'2 - E vamos ao mundo VIP! (pt.1)

"Era sexta-feira, e Geri, como sempre tinha convites VIP para uma festa VIP em algum hotel VIP com convidados VIP, cardápio VIP (ai cansei), enfim, tudo VIP. Inclusive nossas roupas, que, claro, eram delas. A minha principalmente. No meu corpo, só o que me pertencia era a roupa de baixo (bastante formal essa expressão não acham?), ou não. Lingerie Victoria's Secret que ela me deu pra combinar com o vestido que era dela (e que ela vai me dar, pode apostar). Mas o vestido cobria toda a lingerie, então se eu estivesse vestindo qualquer coisa da loja da esquina, não ia fazer diferença! "Você não sabe como termina a noite queridinha". E vinha ela com os comentários pornográficos de depois das oito horas. Lá em casa tem isso. Antes das oito horas, Geri é uma santa de novena. Mas quando o relógio marca 20:00 pode esperar que ela vem com um comentário maldoso. Ela é assim. Todos os dias. Mais intensamente na sexta-feira. Eu sofro! Richard ia passar para me buscar às onze mas, bicha se atrasa como mulher, então ele chegou à meia noite e me deixou muito nervosa. Eu digo MUITO nervosa porque eu estava extremamente estressada. Geri tinha ido para a festa as onze com James e já devia estar bem alegrinha com as amiguinhas da StarLightModels enquanto eu estava plantada na escada de casa, esperando Richard chegar. Enfim depois de meia hora (porque a bicha não sabia dirigir direito) chegamos ao hotel VIP na festa VIP que se chamava StormyFairyNight da produtora Stormy onde Geri tinha muitas influências e fãs, é claro. Chegamos e ficamos um pouco deslocados na festa onde só tinha gente famosa, mas que a gente não conhecia. Sabe aqueles pseudo-famosos que só meia dúzia de pessoas conhecem? Não? Então estes que ninguém sabe quem é, tinham bandos lá. De vez em quando uma carinha conhecida, mas nada que me fazia lembrar de onde, e nem como eu já tinha visto aquele rosto antes. A festa rolava e nada de Geri aparecer. Richard já estava conversando com um cabeleireiro (que eu conhecia! Do programa Favorite Hair Styles do canal 58 que passa de madrugada. Não me julguem, eu vejo porque não tenho sono ok?) e eu sentada no bar bebendo o meu quarto Martini da noite. Quando menos espero, alguém muito mal educado pula em cima de mim como se fosse um urso atacando um esquilo pra comer a noz dele. E não era a Geri (lembrem-se parecia um urso selvagem e não uma boneca Barbie). Era algum homem muito cheiroso e forte e que gritava sem parar "Beccaaaa". Tudo indicava que era um James. Aquele Deus grego que qualquer mulher daria tudo pra estar debaixo dele como eu estava. Na verdade, dariam tudo pra estar de baixo dele de uma outra forma, inclusive quem vos fala. Que Geri não ouça meus pensamentos!
- Sai de cima dela, seu...- Geri tinha ouvido meus pensamentos? Será que eu pensei falando de novo? - ...bruto!! - ai graças a Deus ela não ouviu meus pensamentos!
- Tá bom, hey garçom eu quero uma cerveja!
- Meu chaveirinho vem cá te amo tanto! - Geri me ama gente! Que felicidade, quero dizer que alívio!
- Oi bebum, como vai a festa?
- Ótima, a que horas vocês chegaram?
- Meia noite e meia, aquela bicha se atrasou! - Olhei pra ele com um olhar matador mas desfiz a cara quando vi que ele não estava olhando, só tinha olhos pra boca do cabeleireiro. Judy! O nome dele é Judy! Eu disse que o conhecia. Ok, não me julguem de novo. Era isso ou Madrugada Adentro com aquele chato do Jason Moody. Ok, Madrugada Adentro é bem mais legal. Enfim, não importa.
- Vou dançar, você vem? - Geri disse sendo puxada por James que ia em direção a pista de dança ainda gritando "Beccaaaa" só que agora pra qualquer um que quisesse ouvir.
- Vou nada, não quero queimar minha mão! - ri de mim mesma, ou melhor, da minha piadinha.
- Ãn? Como assim? - Geri parou e fez James voltar uns passos, cambaleando.
- Não quero segurar vela, queimar a mão. Entendeu? - se eu não tivesse explicado..
- Ah tá. - porquê ninguém entende minhas piadinhas? Ah, que droga.

Piadinhas sem graça rendem boas coisas

Piadinhas como essas ficariam bem engraçadas se Seth Cohen as tivesse dito, e não Rebecca Dickens pacata cidadã de Londres, e não de Orange County. Tá certo que o Seth não jogaria uma piadinha tão sem vocabulário, já que ele tem criatividade de sobra quando se trata de ser sarcástico. Eu bem que poderia fazer uns cursos com Seth Cohen, e quem sabe eu não fico na casa da piscina por uns tempos, tipo, pra sempre? É claro que não vou querer pegar a Marissa (óbvio), mas um Luke me cairia bem. Bom, Ryan também, mas pelos meus cálculos ele já estaria morando comigo na casa da piscina e... Rebecca você está numa festa VIP com as pessoas mais VIP de Londres (não as mais VIPs mas alguns VIPzinhos) e está perdendo seu tempo pensando, ou melhor falando sozinha sobre morar num seriado de TV!
- Na verdade eu estou participando da conversa, já que ouvi tudo o que você dizia - uma voz que vinha de trás de mim e dessa vez não era o James, pois estava muito sóbrio. Me virei e me deparei com os olhos azuis daquele também Deus grego, cheiroso, forte (eu estou tão bêbada assim, a ponto de não reconhecer o James? Não é possível esse aqui é moreno!) sorrindo pra mim.

Ele tinha um olhar marcante, umaa voz rouca inconfundível (apesar de eu não saber quem era ele). Era alto e tinha o cabelo liso num corte que nem Jesus dabia onde começava e onde acabava. Era simplesmente vergonhoso estar ao lado de uma coisa dessas, ainda falando sozinha!

- Ah, que vergonha, pareço uma criança falando sozinha sobre Seth Cohen! - e a vergonha piora cada vez mais com frases ditas sem pensar como esta.
- Que isso! Eu não sou criança e sou louco por The O.C.! Tá certo que não fico falando sozinho sobre o Seth Cohen numa festa VIP com alguns VIPzinhos, mas adoro passar tardes vendo a Marissa se embebedar. - Meu Deus vergonha não tem limite.
- Eu acho que minha cara deve tá vermelha agora.
- Não tá não! Ainda não e você tá linda assim - ele sorriu bebendo um gole da sua cerveja e logo depois estendeu a mão pra me tirar do coma que ele tinha me deixado ali. - Meu nome é Alan VIPzinho, muito prazer!
- O meu é Rebecca Dickens, mas eu não sou VIPzinha, minha amiga que é. E o prazer é todo meu! - literalmente! É claro que eu não disse o 'literalmente', ficou restrito só pra vocês saberem o quanto o cara era lindo, pelo amor de Zeus! (primeiro nome de um Deus que me veio na cabeça, não era muito boa em filosofia na escola... Becca, pára de pensar coisas idiotas!)
- Você tá vermelha agora. - Isso poderia ter ficado restrito também, mas ele disse.
- Acho que eu to sentindo isso. Tá ficando quente. - Meu Zeus, eu disse isso? Parece uma cantada! Conserta agora Rebecca! - Quer dizer, meu rosto tá quente, sabe... do tipo, eu tô sentindo que ele tá vermelho.. ahh você entendeu né? - ele riu pra mim (ou de mim, mais provavelmente) e ficou mais lindo ainda depois que disse isso aqui:
- Entendi, mas eu acho que tá quente mesmo, você não acha? Quero dizer, fora as suas bochechas - e então ele arqueou uma sobrancelha do tipo James Bond, sabe. Não, não. Não tinha nada a ver com James Bond, na verdade nada mesmo. Parecia o Alan Jones, o guitarrista, num daqueles programas incansáveis sobre o Glum na televisão que a minha irmã postiça amava. É, parecia o Alan Jones mesmo.
- MEU DEUS! - era o Alan Jones!! E eu ia dar um ataque de fã louca mesmo não sendo uma fã louca, na verdade nem conhecia o Glum a não ser pelos Top Of The Pops que eu via com a Anny lá na casa do meu pai quando eu ia passar uns dias. Disfarça, sua idiota.
- O que foi Rebecca? Algum problema? - Ele já tava sacando que eu ia surtar e foi tirando o sorriso da cara. Quando vi uma cena logo atrás dele que ia me tirar daquela situação "fã prestes a agarrar seu ídolo".
- Meu amigo gay tá beijando o Judy Wilson! Meu Deus! Isso é demais! - ficou muito ridículo isso, fiquei me sentindo a Alicia Silverstone em As Patricinhas de Beverly Hills gritando "Oh meu Deus, olha aquela blusa rosa na vitrine!". Eu sou patética! Quero a minha mãe!
- Essas coisas acontecem mesmo, você nunca viu o seu amigo ficando com ninguém, não? - ele estava mais aliviado quando viu que eu ainda não tinha sacado que ele era o Alan Jones.
- Claro, e vi muito, mas nunca com Judy Wilson! - eu estava rezando pra ele não saber quem era Judy Wilson porque com certeza eu não ia falar que ele era o cabeleireiro apresentador de um programa de madrugada na televisão, que eu assisto ao invés de Madrugada Adentro.
- Claro, não é todo dia que seu amigo pega o apresentador de Favorite Hair Styles - estou pasma, é sério!
- O quê? Você vê esse programa?
- De onde você acha que eu tirei esse penteado aqui, honey? - ele fez um biquinho e apontou pros cabelos que estavam "ligeiramente" muito bagunçados. Não agüentei e ri na hora.
-Você não tá vermelha mais. - e ele estava prestes a fazer aquela cara James Bond de novo. Não, James Bond não, pelo amor de Deus! Quer dizer, Zeus! Hércules? Rebecca, mais uma dessa e você vai apanhar em casa!
- E isso parece ser um progresso!
- Então eu acho que deveríamos progredir pra perto da piscina, lá não tá tão quente.
- E eu achei que quando ficava quente, estávamos progredindo - Meu Deus, mais um comentário parecendo uma cantada! Rebecca o que é isso? Ok, foi uma cantada, eu tive a intenção. Eu sou pervertida, maluca, idiota e ainda vejo o programa do Judy Wilson que está muito assanhado com o Richard ali." [continua...]

Cap'1 - Duas semanas sem a Geri? Vou pirar!

"Tédio, é o que caracteriza minhas últimas semanas. Simplesmente nao fiz nada. Achei uma caixa de M&M's no armário hoje, bem escondida atrás do pote de café que fica atrás do pote de açúcar. Quem escondeu lá (provavelmente Geri) não sabe que quando uma pessoa não tem nada pra fazer, sozinha e casa, é inevitável que ela sinta vontade de fazer café (mesmo sendo completamente leiga no assunto). No fim da tarde, já nem agüentava ouvir a palavra chocolate e a coitada da dona da caixa ainda vai chegar com muita vontade de devorá-la que guardou tão mal no armário. Antes fossem light. Agora a culpa é de ter comido chocolates de outra pessoa e ter engordado três quilos com isso. Pra minha consciência não ficar tão pesada devolvi a caixa pro armário (vazia, é claro) e fingi que não como chocolates desde a páscoa de 99 (que foi o último ano que minha mãe me deu ovos de páscoa). Geri ia chegar ás quatro, mas como esses vôos sempre atrasam alguns minutos ela chegou às seis, com 3 toneladas de malas que ficaram abarrotando a entrada do apartamento - o que poderia assustar o meu novo pretendente que chegaria a qualquer momento. Tá certo, eu não tenho nenhum novo pretendente. Aliás, desde quando Giorgio e eu terminamos não sei o que é um namorado. E isso faz muito tempo! Ok. Só se passaram três semanas, mas foram como séculos pra mim. Passei noites sem dormir, tentando pensar em um jeito de conseguir dinheiro para ir até a Itália e declarar o meu amor de vez. Mas foi em vão, já que quatro dias depois, a secretária eletrônica me avisava da inesperada e repentina paixão que ele arrumou nas montanhas da Scicilia (sim, ele teve coragem de ligar para dizer "não venha atrás de mim, já estou com outra"). Mas também, não iria me declarar mesmo! Nem gostava dele de verdade. Ele era um idiota que sempre usava uma touca preta que ficava linda nele, combinando com os olhos verdes e com o cabelo liso. O que é isso? Estou gastando meu tempo de novo pensando no babaca italiano? Pare agora, Rebecca Dickens!

Enfim, todas as malas tinham desocupado a sala, sendo despejadas na cama da Geri. Eram milhões de blusas e sapatos que pareciam se reproduzir pelo quarto. Geri ganhou um concurso de modelos que deu à ela dez mil dólares para gastar em compras em Nova York. Santo Divino, como uma menina de apenas vinte anos pode ser tão linda, tão rica, tão sortuda e tão bem de namorado (porque convenhamos, James é um xuxu)? E eu aqui mais uma vez pensando naquele ragazzo de olhos verdes? A vida é injusta! Eu quero a minha mãe!

Depois de experimentar todos os sapatos (12 vezes cada um), todos os vestidos (23 vezes cada um) e todas as outras coisas que ela trouxe (147 vezes cada coisa), resolvemos ír ao café Royale. Afinal, não é todo dia que seu dinheiro acaba e você tem uma amiga rica que chega de uma viagem à Nova York com vontade de tomar capuccino gelado que paga pra você também. Sim, meus caros, receio que é todo dia. Mas era uma ocasião diferente, convenhamos. (PS:eu não aceito todo dia, só quando eu estou com fome). É um programa interessante, ainda mais que eu volto pra casa com uma lista de uns 30 conhecidos novos, todos amigos da Geri que com certeza a conhecia das festas que os pais dela sempre fazem nos jardins da casa de inverno, mas que às vezes ela nem sabe o nome. Ter alguém como Geri Phillips como melhor amiga e companheira de apartamento é uma experiência marcante. Pra falar a verdade, nem sei porquê ela divide apartamento comigo, aqui, em Brighton quando ela poderia estar morando com todo luxo e mordomias na Crandon Boulevard, ou em Manchester, ou até mesmo em Paris. Mas ela me prefere, a ter dezenas de empregados que fazem tudo que ela pede. Invejem-me, meus caros, Geri Phillips me ama.

Voltamos para casa quase onze horas, exaustas. Ela pela viagem (realmente, viajar de primeira classe é desgastante), eu por comer muito chocolate e por ver muitos clipes da Girls Aloud. Dormimos como anjos, e logo de manhã, Richard já estava lá em casa, é claro, babando nos sapatos de Geri (porque gays amam sapatos rosa? Porque não azuis? Rosa é mais feminino? Eu prefiro o azul e nem por isso sou menos feminina. Ou sou? Ai, que dúvida!). Richard não se contentou em só olhar e tentou calçar dois pares. Mas, por ironia do destino, Richard calça 39 e Geri 37 (e por uma ironia maior ainda eu calço 37. Vou usar sapatos de Geri Phillips, pasmem!). Richard fica irritadíssimo quando eu jogo na cara dele que as roupas da Geri servem perfeitamente em mim e nem passam pelo pescoço dele. Mas, roupas de uma modelo só podem servir em outra de mesmo porte, no caso eu. Ok, estou exagerando um pouco. Quer dizer, muito. Alguns vestidos da Geri servem em mim, e outras blusinhas e calças. E os sapatos, é claro. Só isso. Mas umas roupas não servem por muito pouco. A diferença é quase imperceptível. Ela é 18 centímetros mais alta. Só. Quase ninguém comenta: "Olha! A Geri tem um chaveirinho", ou "Lá vem a cumpridona e a curtinha" ou ainda "Rebecca tem que subir no banquinho pra falar com a amiga", e nem comentam isso desde a sétima série.

Com todo o dinheiro que a Geri tem, bem que ela poderia criar uma revista só pra mim, um canal de TV, ou coisa assim. Mas ela fala que só não me paga nada porque eu tenho que aprender a me virar sozinha. Eu acho isso egoísmo, sabe? Eu sempre fui a melhor amiga dela e inclusive nos momentos mais tristes eu não a desapontei. Por exemplo, quando ela se mudou pra Bolton porque o pai iria ganhar milhões a mais com a sede da empresa lá. Ela ficou muito triste, mesmo ganhando mais e mais dinheiro. Quem a consolava? Rebecca! Ou até mesmo quando o Rick Martin a convidou pra fazer parte de um clipe, e ela ficou muito nervosa. Mas tudo correu muito bem, porque eu estava lá, no cantinho atrás das câmeras, admirando o Martin e o jeito que ele rebolava. É impressão minha ou estou obcecada por homens? Rick Martin devia ter uns 50 anos naquela época e eu tinha só 15! Você tinha menos Rebecca, bem menos. É eu tinha 11, e ele uns 30, mas rebolava muito bem! Ok, fim.

Animadamente, comecei uma busca na internet por qualquer oferta de emprego em Brighton (não posso ficar gastando o pouco dinheiro que me resta com transporte). Achei alguns interessantes com salário superhipermega alto. Um ficava a quatro quadras da minha casa, o outro a sete. O primeiro me parecia melhor. Assistente do chefe de pesquisa no Nasa Players para quem tinha diploma da aeronáutica. Descartado. O outro era em um restaurante chiquérrimo, o ForeingPlace, mas o emprego exigia o conhecimento em massas italianas. Eu ia me lembrar muito daquele italiano que me arrancava suspiros diários. Mais uma vez, obcecada. Preciso de um homem. Agora! Meu Deus, tenho vergonha das coisas que eu falo. Sou patética! Ok, continuando. Entre os que eu podia trabalhar estavam gari, baby-sitter, empacotadeira de ovos (não daria certo), e camareira do hotel Meyer. Ser camareira do Meyer pode ser glamuroso, em meio de roupas sujas de pop-stars, rock-stars, top-models e outras profissões chiques separadas por hífen. Mas mesmo assim resolvi tentar a sorte em um emprego diferente. O de baby-sitter me pareceu um bom exercício da minha pouca-quase-nenhuma paciência com crianças. Mas não conseguiria passar um minuto com os filhos de alguém, sendo que nem com meu irmão mais novo, eu conseguia brincar! Becca sem emprego, sem namorado, sem nada. Péssimo!"