segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Cap'2 - E vamos ao mundo VIP! (pt.1)

"Era sexta-feira, e Geri, como sempre tinha convites VIP para uma festa VIP em algum hotel VIP com convidados VIP, cardápio VIP (ai cansei), enfim, tudo VIP. Inclusive nossas roupas, que, claro, eram delas. A minha principalmente. No meu corpo, só o que me pertencia era a roupa de baixo (bastante formal essa expressão não acham?), ou não. Lingerie Victoria's Secret que ela me deu pra combinar com o vestido que era dela (e que ela vai me dar, pode apostar). Mas o vestido cobria toda a lingerie, então se eu estivesse vestindo qualquer coisa da loja da esquina, não ia fazer diferença! "Você não sabe como termina a noite queridinha". E vinha ela com os comentários pornográficos de depois das oito horas. Lá em casa tem isso. Antes das oito horas, Geri é uma santa de novena. Mas quando o relógio marca 20:00 pode esperar que ela vem com um comentário maldoso. Ela é assim. Todos os dias. Mais intensamente na sexta-feira. Eu sofro! Richard ia passar para me buscar às onze mas, bicha se atrasa como mulher, então ele chegou à meia noite e me deixou muito nervosa. Eu digo MUITO nervosa porque eu estava extremamente estressada. Geri tinha ido para a festa as onze com James e já devia estar bem alegrinha com as amiguinhas da StarLightModels enquanto eu estava plantada na escada de casa, esperando Richard chegar. Enfim depois de meia hora (porque a bicha não sabia dirigir direito) chegamos ao hotel VIP na festa VIP que se chamava StormyFairyNight da produtora Stormy onde Geri tinha muitas influências e fãs, é claro. Chegamos e ficamos um pouco deslocados na festa onde só tinha gente famosa, mas que a gente não conhecia. Sabe aqueles pseudo-famosos que só meia dúzia de pessoas conhecem? Não? Então estes que ninguém sabe quem é, tinham bandos lá. De vez em quando uma carinha conhecida, mas nada que me fazia lembrar de onde, e nem como eu já tinha visto aquele rosto antes. A festa rolava e nada de Geri aparecer. Richard já estava conversando com um cabeleireiro (que eu conhecia! Do programa Favorite Hair Styles do canal 58 que passa de madrugada. Não me julguem, eu vejo porque não tenho sono ok?) e eu sentada no bar bebendo o meu quarto Martini da noite. Quando menos espero, alguém muito mal educado pula em cima de mim como se fosse um urso atacando um esquilo pra comer a noz dele. E não era a Geri (lembrem-se parecia um urso selvagem e não uma boneca Barbie). Era algum homem muito cheiroso e forte e que gritava sem parar "Beccaaaa". Tudo indicava que era um James. Aquele Deus grego que qualquer mulher daria tudo pra estar debaixo dele como eu estava. Na verdade, dariam tudo pra estar de baixo dele de uma outra forma, inclusive quem vos fala. Que Geri não ouça meus pensamentos!
- Sai de cima dela, seu...- Geri tinha ouvido meus pensamentos? Será que eu pensei falando de novo? - ...bruto!! - ai graças a Deus ela não ouviu meus pensamentos!
- Tá bom, hey garçom eu quero uma cerveja!
- Meu chaveirinho vem cá te amo tanto! - Geri me ama gente! Que felicidade, quero dizer que alívio!
- Oi bebum, como vai a festa?
- Ótima, a que horas vocês chegaram?
- Meia noite e meia, aquela bicha se atrasou! - Olhei pra ele com um olhar matador mas desfiz a cara quando vi que ele não estava olhando, só tinha olhos pra boca do cabeleireiro. Judy! O nome dele é Judy! Eu disse que o conhecia. Ok, não me julguem de novo. Era isso ou Madrugada Adentro com aquele chato do Jason Moody. Ok, Madrugada Adentro é bem mais legal. Enfim, não importa.
- Vou dançar, você vem? - Geri disse sendo puxada por James que ia em direção a pista de dança ainda gritando "Beccaaaa" só que agora pra qualquer um que quisesse ouvir.
- Vou nada, não quero queimar minha mão! - ri de mim mesma, ou melhor, da minha piadinha.
- Ãn? Como assim? - Geri parou e fez James voltar uns passos, cambaleando.
- Não quero segurar vela, queimar a mão. Entendeu? - se eu não tivesse explicado..
- Ah tá. - porquê ninguém entende minhas piadinhas? Ah, que droga.

Piadinhas sem graça rendem boas coisas

Piadinhas como essas ficariam bem engraçadas se Seth Cohen as tivesse dito, e não Rebecca Dickens pacata cidadã de Londres, e não de Orange County. Tá certo que o Seth não jogaria uma piadinha tão sem vocabulário, já que ele tem criatividade de sobra quando se trata de ser sarcástico. Eu bem que poderia fazer uns cursos com Seth Cohen, e quem sabe eu não fico na casa da piscina por uns tempos, tipo, pra sempre? É claro que não vou querer pegar a Marissa (óbvio), mas um Luke me cairia bem. Bom, Ryan também, mas pelos meus cálculos ele já estaria morando comigo na casa da piscina e... Rebecca você está numa festa VIP com as pessoas mais VIP de Londres (não as mais VIPs mas alguns VIPzinhos) e está perdendo seu tempo pensando, ou melhor falando sozinha sobre morar num seriado de TV!
- Na verdade eu estou participando da conversa, já que ouvi tudo o que você dizia - uma voz que vinha de trás de mim e dessa vez não era o James, pois estava muito sóbrio. Me virei e me deparei com os olhos azuis daquele também Deus grego, cheiroso, forte (eu estou tão bêbada assim, a ponto de não reconhecer o James? Não é possível esse aqui é moreno!) sorrindo pra mim.

Ele tinha um olhar marcante, umaa voz rouca inconfundível (apesar de eu não saber quem era ele). Era alto e tinha o cabelo liso num corte que nem Jesus dabia onde começava e onde acabava. Era simplesmente vergonhoso estar ao lado de uma coisa dessas, ainda falando sozinha!

- Ah, que vergonha, pareço uma criança falando sozinha sobre Seth Cohen! - e a vergonha piora cada vez mais com frases ditas sem pensar como esta.
- Que isso! Eu não sou criança e sou louco por The O.C.! Tá certo que não fico falando sozinho sobre o Seth Cohen numa festa VIP com alguns VIPzinhos, mas adoro passar tardes vendo a Marissa se embebedar. - Meu Deus vergonha não tem limite.
- Eu acho que minha cara deve tá vermelha agora.
- Não tá não! Ainda não e você tá linda assim - ele sorriu bebendo um gole da sua cerveja e logo depois estendeu a mão pra me tirar do coma que ele tinha me deixado ali. - Meu nome é Alan VIPzinho, muito prazer!
- O meu é Rebecca Dickens, mas eu não sou VIPzinha, minha amiga que é. E o prazer é todo meu! - literalmente! É claro que eu não disse o 'literalmente', ficou restrito só pra vocês saberem o quanto o cara era lindo, pelo amor de Zeus! (primeiro nome de um Deus que me veio na cabeça, não era muito boa em filosofia na escola... Becca, pára de pensar coisas idiotas!)
- Você tá vermelha agora. - Isso poderia ter ficado restrito também, mas ele disse.
- Acho que eu to sentindo isso. Tá ficando quente. - Meu Zeus, eu disse isso? Parece uma cantada! Conserta agora Rebecca! - Quer dizer, meu rosto tá quente, sabe... do tipo, eu tô sentindo que ele tá vermelho.. ahh você entendeu né? - ele riu pra mim (ou de mim, mais provavelmente) e ficou mais lindo ainda depois que disse isso aqui:
- Entendi, mas eu acho que tá quente mesmo, você não acha? Quero dizer, fora as suas bochechas - e então ele arqueou uma sobrancelha do tipo James Bond, sabe. Não, não. Não tinha nada a ver com James Bond, na verdade nada mesmo. Parecia o Alan Jones, o guitarrista, num daqueles programas incansáveis sobre o Glum na televisão que a minha irmã postiça amava. É, parecia o Alan Jones mesmo.
- MEU DEUS! - era o Alan Jones!! E eu ia dar um ataque de fã louca mesmo não sendo uma fã louca, na verdade nem conhecia o Glum a não ser pelos Top Of The Pops que eu via com a Anny lá na casa do meu pai quando eu ia passar uns dias. Disfarça, sua idiota.
- O que foi Rebecca? Algum problema? - Ele já tava sacando que eu ia surtar e foi tirando o sorriso da cara. Quando vi uma cena logo atrás dele que ia me tirar daquela situação "fã prestes a agarrar seu ídolo".
- Meu amigo gay tá beijando o Judy Wilson! Meu Deus! Isso é demais! - ficou muito ridículo isso, fiquei me sentindo a Alicia Silverstone em As Patricinhas de Beverly Hills gritando "Oh meu Deus, olha aquela blusa rosa na vitrine!". Eu sou patética! Quero a minha mãe!
- Essas coisas acontecem mesmo, você nunca viu o seu amigo ficando com ninguém, não? - ele estava mais aliviado quando viu que eu ainda não tinha sacado que ele era o Alan Jones.
- Claro, e vi muito, mas nunca com Judy Wilson! - eu estava rezando pra ele não saber quem era Judy Wilson porque com certeza eu não ia falar que ele era o cabeleireiro apresentador de um programa de madrugada na televisão, que eu assisto ao invés de Madrugada Adentro.
- Claro, não é todo dia que seu amigo pega o apresentador de Favorite Hair Styles - estou pasma, é sério!
- O quê? Você vê esse programa?
- De onde você acha que eu tirei esse penteado aqui, honey? - ele fez um biquinho e apontou pros cabelos que estavam "ligeiramente" muito bagunçados. Não agüentei e ri na hora.
-Você não tá vermelha mais. - e ele estava prestes a fazer aquela cara James Bond de novo. Não, James Bond não, pelo amor de Deus! Quer dizer, Zeus! Hércules? Rebecca, mais uma dessa e você vai apanhar em casa!
- E isso parece ser um progresso!
- Então eu acho que deveríamos progredir pra perto da piscina, lá não tá tão quente.
- E eu achei que quando ficava quente, estávamos progredindo - Meu Deus, mais um comentário parecendo uma cantada! Rebecca o que é isso? Ok, foi uma cantada, eu tive a intenção. Eu sou pervertida, maluca, idiota e ainda vejo o programa do Judy Wilson que está muito assanhado com o Richard ali." [continua...]

Cap'1 - Duas semanas sem a Geri? Vou pirar!

"Tédio, é o que caracteriza minhas últimas semanas. Simplesmente nao fiz nada. Achei uma caixa de M&M's no armário hoje, bem escondida atrás do pote de café que fica atrás do pote de açúcar. Quem escondeu lá (provavelmente Geri) não sabe que quando uma pessoa não tem nada pra fazer, sozinha e casa, é inevitável que ela sinta vontade de fazer café (mesmo sendo completamente leiga no assunto). No fim da tarde, já nem agüentava ouvir a palavra chocolate e a coitada da dona da caixa ainda vai chegar com muita vontade de devorá-la que guardou tão mal no armário. Antes fossem light. Agora a culpa é de ter comido chocolates de outra pessoa e ter engordado três quilos com isso. Pra minha consciência não ficar tão pesada devolvi a caixa pro armário (vazia, é claro) e fingi que não como chocolates desde a páscoa de 99 (que foi o último ano que minha mãe me deu ovos de páscoa). Geri ia chegar ás quatro, mas como esses vôos sempre atrasam alguns minutos ela chegou às seis, com 3 toneladas de malas que ficaram abarrotando a entrada do apartamento - o que poderia assustar o meu novo pretendente que chegaria a qualquer momento. Tá certo, eu não tenho nenhum novo pretendente. Aliás, desde quando Giorgio e eu terminamos não sei o que é um namorado. E isso faz muito tempo! Ok. Só se passaram três semanas, mas foram como séculos pra mim. Passei noites sem dormir, tentando pensar em um jeito de conseguir dinheiro para ir até a Itália e declarar o meu amor de vez. Mas foi em vão, já que quatro dias depois, a secretária eletrônica me avisava da inesperada e repentina paixão que ele arrumou nas montanhas da Scicilia (sim, ele teve coragem de ligar para dizer "não venha atrás de mim, já estou com outra"). Mas também, não iria me declarar mesmo! Nem gostava dele de verdade. Ele era um idiota que sempre usava uma touca preta que ficava linda nele, combinando com os olhos verdes e com o cabelo liso. O que é isso? Estou gastando meu tempo de novo pensando no babaca italiano? Pare agora, Rebecca Dickens!

Enfim, todas as malas tinham desocupado a sala, sendo despejadas na cama da Geri. Eram milhões de blusas e sapatos que pareciam se reproduzir pelo quarto. Geri ganhou um concurso de modelos que deu à ela dez mil dólares para gastar em compras em Nova York. Santo Divino, como uma menina de apenas vinte anos pode ser tão linda, tão rica, tão sortuda e tão bem de namorado (porque convenhamos, James é um xuxu)? E eu aqui mais uma vez pensando naquele ragazzo de olhos verdes? A vida é injusta! Eu quero a minha mãe!

Depois de experimentar todos os sapatos (12 vezes cada um), todos os vestidos (23 vezes cada um) e todas as outras coisas que ela trouxe (147 vezes cada coisa), resolvemos ír ao café Royale. Afinal, não é todo dia que seu dinheiro acaba e você tem uma amiga rica que chega de uma viagem à Nova York com vontade de tomar capuccino gelado que paga pra você também. Sim, meus caros, receio que é todo dia. Mas era uma ocasião diferente, convenhamos. (PS:eu não aceito todo dia, só quando eu estou com fome). É um programa interessante, ainda mais que eu volto pra casa com uma lista de uns 30 conhecidos novos, todos amigos da Geri que com certeza a conhecia das festas que os pais dela sempre fazem nos jardins da casa de inverno, mas que às vezes ela nem sabe o nome. Ter alguém como Geri Phillips como melhor amiga e companheira de apartamento é uma experiência marcante. Pra falar a verdade, nem sei porquê ela divide apartamento comigo, aqui, em Brighton quando ela poderia estar morando com todo luxo e mordomias na Crandon Boulevard, ou em Manchester, ou até mesmo em Paris. Mas ela me prefere, a ter dezenas de empregados que fazem tudo que ela pede. Invejem-me, meus caros, Geri Phillips me ama.

Voltamos para casa quase onze horas, exaustas. Ela pela viagem (realmente, viajar de primeira classe é desgastante), eu por comer muito chocolate e por ver muitos clipes da Girls Aloud. Dormimos como anjos, e logo de manhã, Richard já estava lá em casa, é claro, babando nos sapatos de Geri (porque gays amam sapatos rosa? Porque não azuis? Rosa é mais feminino? Eu prefiro o azul e nem por isso sou menos feminina. Ou sou? Ai, que dúvida!). Richard não se contentou em só olhar e tentou calçar dois pares. Mas, por ironia do destino, Richard calça 39 e Geri 37 (e por uma ironia maior ainda eu calço 37. Vou usar sapatos de Geri Phillips, pasmem!). Richard fica irritadíssimo quando eu jogo na cara dele que as roupas da Geri servem perfeitamente em mim e nem passam pelo pescoço dele. Mas, roupas de uma modelo só podem servir em outra de mesmo porte, no caso eu. Ok, estou exagerando um pouco. Quer dizer, muito. Alguns vestidos da Geri servem em mim, e outras blusinhas e calças. E os sapatos, é claro. Só isso. Mas umas roupas não servem por muito pouco. A diferença é quase imperceptível. Ela é 18 centímetros mais alta. Só. Quase ninguém comenta: "Olha! A Geri tem um chaveirinho", ou "Lá vem a cumpridona e a curtinha" ou ainda "Rebecca tem que subir no banquinho pra falar com a amiga", e nem comentam isso desde a sétima série.

Com todo o dinheiro que a Geri tem, bem que ela poderia criar uma revista só pra mim, um canal de TV, ou coisa assim. Mas ela fala que só não me paga nada porque eu tenho que aprender a me virar sozinha. Eu acho isso egoísmo, sabe? Eu sempre fui a melhor amiga dela e inclusive nos momentos mais tristes eu não a desapontei. Por exemplo, quando ela se mudou pra Bolton porque o pai iria ganhar milhões a mais com a sede da empresa lá. Ela ficou muito triste, mesmo ganhando mais e mais dinheiro. Quem a consolava? Rebecca! Ou até mesmo quando o Rick Martin a convidou pra fazer parte de um clipe, e ela ficou muito nervosa. Mas tudo correu muito bem, porque eu estava lá, no cantinho atrás das câmeras, admirando o Martin e o jeito que ele rebolava. É impressão minha ou estou obcecada por homens? Rick Martin devia ter uns 50 anos naquela época e eu tinha só 15! Você tinha menos Rebecca, bem menos. É eu tinha 11, e ele uns 30, mas rebolava muito bem! Ok, fim.

Animadamente, comecei uma busca na internet por qualquer oferta de emprego em Brighton (não posso ficar gastando o pouco dinheiro que me resta com transporte). Achei alguns interessantes com salário superhipermega alto. Um ficava a quatro quadras da minha casa, o outro a sete. O primeiro me parecia melhor. Assistente do chefe de pesquisa no Nasa Players para quem tinha diploma da aeronáutica. Descartado. O outro era em um restaurante chiquérrimo, o ForeingPlace, mas o emprego exigia o conhecimento em massas italianas. Eu ia me lembrar muito daquele italiano que me arrancava suspiros diários. Mais uma vez, obcecada. Preciso de um homem. Agora! Meu Deus, tenho vergonha das coisas que eu falo. Sou patética! Ok, continuando. Entre os que eu podia trabalhar estavam gari, baby-sitter, empacotadeira de ovos (não daria certo), e camareira do hotel Meyer. Ser camareira do Meyer pode ser glamuroso, em meio de roupas sujas de pop-stars, rock-stars, top-models e outras profissões chiques separadas por hífen. Mas mesmo assim resolvi tentar a sorte em um emprego diferente. O de baby-sitter me pareceu um bom exercício da minha pouca-quase-nenhuma paciência com crianças. Mas não conseguiria passar um minuto com os filhos de alguém, sendo que nem com meu irmão mais novo, eu conseguia brincar! Becca sem emprego, sem namorado, sem nada. Péssimo!"