segunda-feira, 27 de julho de 2009

Cap'3 - De volta à realidade (pt. 1)

Como alguém não consegue ser a namorada de Alan Jones por muito tempo, na segunda-feira o episódio já não estava mais em pauta nas nossas conversas matinais que geralmente são cheias de mau-humor matinal e cereais matinais esparramados pela mesa, o que traz mais mau-humor ainda. Logo depois que Geri saiu de casa pra trabalhar (se é que posar para câmeras pode-se chamar de trabalho) eu fiquei em casa me culpando por não ter um emprego mesmo ele não sendo tão fácil como o de Geri. Então eu cansei de não fazer nada e dei um jeito de andar na rua pra procurar um. Da última vez que eu fiz isso deu certo. Comecei a trabalhar numa banca de jornais. Pelo menos eu lia as noticias antes de todo mundo! Dessa vez eu ia ter que achar alguma coisa melhor do que um emprego que me fizesse voltar pra casa com cheiro de papel velho. Andei o bairro inteiro e adivinhem? Nada.
Já era tarde e eu estava no super-mercado comprando tudo que eu queria comer já que não tinha mais nada pra fazer a não ser sentar na frente da TV e comer. Acabei achando aquela bebidinha vermelha, docinha e altamente alcoólica. Cooler de vinho. Me lembrei que aquilo ficava muito bom se misturado com vodka preta e muito gelo. E também me lembrei automaticamente das noitadas em que eu quando adolescente (não faz tanto tempo) desfrutava dos elogios de todo mundo a respeito das bebidinhas que eu fazia. Eu era praticamente uma Coyote, mas sem as roupas mínimas daquelas garotas (e sem o balcão pegando fogo, e as posições pouco pornográficas na frente dos clientes). Bons tempos aqueles, viu? "Vou levar alguns ingredientes para embebedar a Geri" pensei alto como sempre.

- Cheguei gente! - eu lutava pra conseguir abrir a porta com o imenso saco de compras no colo
- Entra aí - deu pra ouvir a Geri lá de dentro
- Tô tentando.
Depois de alguns minutos minha querida amiga resolveu abrir a porta provavelmente pelo medo de que eu pudesse ter sido raptada (ela tem essa coisa de pânico, síndrome do pânico, alguma coisa assim).
- Nossa, você não sabe abrir uma porta não é? - ela ainda reclamava! Eu tinha feito compras pensando nela e ela me atende desse jeito? Garota ingrata!
- Não me faça estressar com você Geri, tenho uma surpresa!
-Surpresa? O que é? Você ta namorando o Jones? Ele te ligou? O quê? - eu tinha passado o meu dia sem pensar nisso e é tudo o que ela tem em mente.
- Claro que não! É uma coisa muito boa você vai ver, não entre na cozinha! - eu disse, indo direto pra cozinha sem deixar ela ver o que tinha na sacola.

Coloquei tudo em cima do balcão e comecei a preparar as bebidinhas. Poderia ser uma ótima bar tender, se não fosse o meu perfeito desequilíbrio e falta de atenção quando ouço as palavras "garrafa de vidro". Mesmo assim, tentei fazer tudo sem quebrar nada, o que iria chamar a atenção da Geri. Depois de muitas misturas, acabei fazendo três tipos bem rapidinho e fui logo servindo pra ingrata da minha amiga que já estava com James na sala. Depois de um grito enorme, lembranças das festas da escola, ela finalmente experimentou.

- MEU DEUS! D-i-v-i-n-o! - bebeu tudo num gole só, sem nem saborear nada.
- Também quero! - James pegou a bebida rosa, que era feita com bala de cereja e tequila, bem doce.
- Becca, eu não me lembrava do quanto você era boa nisso!
- É claro, você nem sabia beber quando tinha 15 anos, Geri.
- AI QUE TROÇO FORTE!! - James soltava um grito estranho junto com uma cara que apesar de toda a beleza do sujeito, ficou muito feia.
- Credo James, esse é o mais fraco, amor. E ainda é docinho! - Geri dava outra golada matadora acabando com o que tinha na taça dele. - AII GENTE, o que tem nisso amiga? - agora Geri fazia uma cara de quem bebeu pinga e foi na roda gigante.
- Tequila, bala e gelo. Só. - como uma chef de boteco, suprema.
- Ui tá ótimo, desce mais um aê! - Geri aprende a falar assim por causa da intensa convivência com James, coitada.
- Acabou, mas se quiser eu faço mais.
- Eu conheço alguém que ia adorar esse seu talento, Becca. - esse foi James falando acredita? Ás vezes ele consegue conversar como um ser humano comum.
- Ah é? Quem? - perguntei, fingindo estar interessada, porque com certeza ele ia dizer "o Brian, meu amigo, ele ama garotas que bebem até cair" ou então "a Hanna, minha cachorra, ela adora lamber o resto de cerveja das garrafas".
- O Brian - eu estava certa como sempre - meu amigo - mais certa impossível! - ele estava louco atrás de uma garota para o cargo de bar tender lá na boate.

Ok. Eu estava meio certa. Eu sabia que ele falaria do Brian, o amigo inseparável. Só não sabia que ele era dono de uma boate, e nem de que precisava de uma bar tender. Fiquei realmente interessada, mas logo pensei que eu não seria capaz de trabalhar como bar tender de uma boate. Nunca! Esqueceu da minha simpatia com as palavras "garrafa de vidro"? Definitivamente, não daria certo, eu ia ser demitida na primeira noite, e ainda teria que pagar por tudo que eu quebrasse. Mas espera aí, quem disse que eu iria ser contratada? Eu sou uma leiga no assunto "drinks", mal posso distinguir o sabor das coisas. Tá certo que eu ganhei até prêmio nos tempos de colégio, mas eu fazia misturas para adolescentes de 15 anos, ninguém sabia o que era álcool. Rebecca, pára de pensar alto e volte a conversar com seus amigos!

- Ah, que isso James, nem sei fazer drinks tão bem assim!
- Não? Claro que sabe! Esses drink é muito mais bom do que lá - James voltou ao seu normal "analfabeto"
- Além disso, Becca, você está precisando de um emprego, não está? - Geri sabe botar a gente pra cima não é?
- É, mas eu não sei se é o emprego ideal pra mim gente, além do mais, meus drinks não vão agradar o Brian! - quem quer que seja esse tal de Brian.

Depois de implorarem pra eu fazer mais milhares de combinações de vodka, tequila, bala, sucos, refrigerante, e tudo que tinha na geladeira, os dois bêbados resolveram ligar pro Brian em plena segunda-feira às onze da noite. Não os impedi, é claro. Afinal, eu estava disposta a testar se realmente conseguiria um emprego com meus conhecimentos adolescentes. James falava alto com o amigo no telefone, o que deve tê-lo deixado de muito bom humor naquela hora. No meio de soluços, risos e gritos, combinaram que eu poderia fazer um teste na quinta-feira. Fui dormir rezando pra que aquela mistura toda não deixasse os dois no meio da sala onde no outro dia, meu pai iria pisar. Aliás, não contei a ninguém, mas meu pai estava vindo me visitar e era na manhã seguinte.
[continua...]

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